É certo que a palavra tem poder. E uma boa palavra transforma, restaura, cria, assegura e consola. Quem de nós nunca foi socorrido pela palavra certa, no momento em que mais precisávamos dela? Ela surge do nada... De um amigo, de um livro, de um poema... O importante é que ela nos chega. Pode vir até mesmo de um anúncio ou até de uma conversa oriunda de outras pessoas. É preciso acreditar no poder das palavras. Só assim, prestaremos mais atenção no que ouvimos e teremos mais cuidado com o que pronunciamos. É importante cuidar das palavras, até mesmo, antes delas se tornarem um signo lingüístico, ou seja, cuidado com o pensamento!
Para muitos povos, a palavra é de natureza divina, é uma revelação dos deuses criadores. E a natureza das palavras é definida pela dosagem dos elementos que a constituem: Água, terra, fogo e ar. Sendo assim, um excesso de fogo, produzirá palavras de raiva, enquanto um excesso de ar produzirá palavras vazias. Outros elementos, como o mel, o sal, a bile e outros, contribuem para enriquecê-la.
A nós interessa, neste momento, apenas, aquelas produzidas com a doçura do mel, fortalecidas pela energia da mãe Terra. As palavras que trazem boas sementes e proliferam, semeando idéias, aumentando a motivação, encorajando um viver mais flexível e criativo. Quero, então, convocá-los a buscar, dentro de cada um de nós ou dentro cada um dos amigos, o contador de histórias que existe e que está morrendo. Agonizando em frente as milhares de TVs, computadores, tablets e tantas outras multimídias. Ninguém melhor do que o contador de histórias para saber o valor e a magia das palavras.
Narrar histórias é ajudar a entender o mundo, além de nos dar um senso de pertinência e de significado. Aristóteles acreditava que a literatura despertava emoções que produziam um efeito curativo. Na antiga biblioteca de Tebas há uma inscrição que corrobora a idéia do filósofo: “ O Lugar Para Curar a Alma”.
E é acreditando nisto, que convido e reforço a idéia de que devemos contar mais histórias, mais causos, resgatar a oralidade na educação. É comum nas escolas se ensinar a ler e escrever, mas e o falar e o ouvir?!
Nestes dias, convivendo mais de perto com o meu pai, com menos tempo para a TV e o laptop, ouvi histórias da sua juventude, causos que lhe foram contados pelo pai, pela mãe, pelos tios. Quanta riqueza! As histórias traziam informações de um modo de viver, de pensar e agir. Verdadeiras aulas de Sociologia. E a graça ingênua dos causos, que na sua maioria trazem uma moral?
Contar histórias (antigamente, se fazia distinção entre História e estória) é uma forma de estreitar laços através do entretenimento, é revelar concepções de mundo, crenças, valores e normas sociais de conduta, que esperamos dos membros da nossa sociedade.
E para encerrar, lhes conto um dos causos do meu pai:
Meu bisavô, fazendeiro garboso, que achava que tudo podia... Não contente por ter duas famílias; uma na cidade e outra na distante fazenda, ainda tinha olhos para a mulher da fazenda vizinha.
Um dia, cavalgando pelas beiradas da fazenda viu a formosa vizinha embrenhar-se no mato, atrás de uma galinha. Do alto do seu cavalo, espantou-se ao perceber que um empregado se esgueirava mato adentro ao encalço da patroa. Como ele o reconhecia como rival, não se fez de rogado, também esgueirou-se no mato. Assim ia a mulher atrás da galinha, o empregado enamorado atrás da patroa e o vizinho enciumado atrás do empregado. Chegando em uma clareira, a galinha estaca. Pára a mulher. Chega o empregado. Aparece o vizinho... E todos cumprimentam o marido que apeia do alazão... Ô situação!
E aqui faço uso de uma anotação dos meus papeizinhos “ Sejam poetas, sejam contadores de histórias! Re- encantem as palavras para que elas possam, de novo, remover montanhas.”
Referências:
Caram, Cecília A. e Matos, Gislayne A. Contos e Metáforas em Terapia.
Imagem capturada do blog http://relatividadedaspalavras.blogspot.nl/