domingo, 5 de junho de 2022

A revolução de Woodstock dentro de mim

 


Quando a conheci, pareceu-me que havia saído de uma foto do Festival de Woodstock: Calças largas, de fundo bege com flores multicoloridas, e uma blusa amarela que nada combinava com as calças. Os sapatos, tipo mocassins de lona,  primavam pelo conforto, sem mostrar preocupação com a moda vigente. Os cabelos a altura dos ombros, já mostravam os fios grisalhos. Porém, o que mais me chamou a atenção, no primeiro momento, foram os óculos de armação branca estilo gatinha.  Por trás daqueles óculos, havia olhos tão expressivos! Ao mesmo tempo que  inspiravam calma, surgia o convite para o inusitado.

As  experiências de vida foram nos aproximando e a amizade surgiu naturalmente. Afinidades?! Não sei se temos muitas... ela é vegetariana, eu ainda estou no desejo de ser. Ela adora gatos, eu não os tenho em alta conta. Ela é mais aberta para a vida, eu ainda estou tentando abrir portas... 

Gosto da casa dela. Aquela mistura de pequenas coisas coloridas, pedras recolhidas ao acaso, conchinhas do mar, galhos apanhados nas ruas e plantas, muitas plantas... Nas suas mãos tudo se transforma! Decora e traz aconchego. Nossa conversa sempre flui com muita leveza, mesmo quando falamos de assuntos mais sérios, como a política do nosso Brasil ou as situações, que nós sessentonas, estamos vivenciando.

Hoje eu liguei para ela. Deveria ser uma ligação rápida para falar de uma prática de dança ao ar livre para os 50 plus. A conversa correu solta. Estávamos falando de  algumas dificuldades que eu tenho, quando, subitamente, me surpreendo relembrando um flash da minha adolescência. O botão vermelho acendeu! O bate papo continua e, novamente, me assusto com certas descobertas sobre mim, que pareciam irem se descortinando à minha frente. Pronto! Angélica, que é uma psicóloga,  de forma despretensiosa, me fez ver que era hora de mudar de terapeuta. Era hora de parar e colocar em prática o que eu vinha apregoando nos estudos do autoconhecimento. O buraco definitivamente era mais em baixo! Precisava de uma psicóloga  mais severa, alguém que me ferroasse e me tirasse da zona de conforto, na qual estava metida. Não era tarde para empreender a minha travessia no meu pântano, compreender certos comportamentos e crenças.  Era necessário mergulhar neste lodo que tão cuidadosamente eu conscientemente ou  inconscientemente escondi. 

Para Gustav Jung, o autoconhecimento é uma construção lenta e paciente, é um produto complexo e inacabado de uma caminhada que perpetua por uma vida inteira. Como sou espírita, acredito que vai além de uma vida... Mas crenças à parte, é necessário ter esta clareza: o autoconhecimento exige coragem, nem sempre queremos levantar o tapete do nosso íntimo; descobrir coisas que preferimos ignorar. Exige paciência e persistência, não vamos concretizá-lo imediatamente, é processo. E, ainda, exige uma amorosidade para conosco, é preciso deixar a culpa de lado. Ela não mudará o passado e só atravancará o nosso futuro.

 A chave é aceitar nossa humanidade. Somos assim: seres em processo de aprendizagem. Aceitemos!

E, neste momento me lembro da música do grande Oswaldo Montenegro, A lista. É uma música linda, com uma letra belíssima e que nos convida a uma reflexão. Trechos como " ...onde você ainda se reconhece/ na foto passada ou no espelho de agora ...", calam fundo em meu coração.

Assim como os hippies causaram mudanças culturais e comportamentais na década de 60 e 70, a minha amiga Angélica, causou uma verdadeira revolução na minha tarde ensolarada de hoje.

Continue assim: com suas roupas coloridas, seus óculos de gatinha e este olhar caloroso que nos convida e nos envolve. Obrigada pela sua amizade!

Amigas! O que seria de mim sem elas?!


9 comentários:

  1. Ótimo texto, e como e bom termos boas amigas, que nos dão uma sacudida! E o que sinto quando converso com algumas, bem poucas no momento mas todas de qualidade!

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    1. Grata pelo comentário! Um brinde às boas amizades. Que saibamos cultivá-lá.⚘

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  2. Amiga, que bom poder ler mais um excelente texto escrito por você.
    Realmente uma boa conversa nos renova.
    Não demore para nos brindar com outros textos. Paz e bem

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    1. Ah, minha querida! Você é aquela que sempre me dá a mão e o coração. Grata sempre pela sua amizade.⚘

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  3. Marise Carneiro Saraiva10 de junho de 2022 às 03:36

    Parabéns, Lucia! Otimo texto! Bons amigos nos ajudam na caminhada do processo de autoconhecimento!!!

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  4. Chorei!!! Gratidão por ter vocês no meu caminho, Lúcia como amiga, Angélica como terapeuta, mas no fim, irmãs do coração. Ambas por me ajudarem o despertar da minha consciência.

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    1. Querida Cris, de mãos dadas vamos apoiando umas às outras. Grata pela visita nestas páginas!

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  5. Sou de fora, mais achei o texto lindissmo.,

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  6. Que bom que você gostou do texto. É sempre um grande incentivo para continuar escrevendo.

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