Ela se faz presente por onde passa. Sua voz rápida, mostra uma urgência em ser ouvida e, se possível, atendida. Sua perseverança na luta para trazer à luz e, também, ampliar os direitos das pessoas cegas é inegável. Como ela mesma se intitula: Sou incansável! Já fundou uma biblioteca braille, uma academia para escritores inclusivos, é escritora e presença assídua em eventos literários ou políticos que possam agregar visibilidade à sua empreitada.
Encontrei-me com ela poucas vezes. Foram encontros fortuítos, mas antes disso, já a conhecia pelas redes sociais e ouvia sobre ela através de conhecidos. A participação nos encontros literários nos fizeram esbarrar com uma maior frequência; até porque somos da mesma região. E foi num destes encontros, que eu esperava dar voz aos membros representantes das diversas entidades literárias, que eu disse a ela: _Cada um vai poder falar da sua entidade, mas cuidado, procure falar pouco. Você fala demais!_ Naturalmente houve um silêncio constrangedor.
Passado o evento, que afinal, não deu voz, como eu esperava, aos colegas, alguém comentou o episódio comigo. Eu reagi afirmando que, os anos de convivência com a cultura holandesa, me fizeram aprender uma comunicação e uma maneira de ser mais direta. Com certeza é uma verdade, mas tem mais caroço neste angú... Então vamos por parte.
Antes de publicar o meu livro, Soprados das Gavetas, aparecia de vez em quando nas redes sociais; confesso que tenho uma aversão àquelas pessoas que postam tudo que fazem: onde estiveram, com quem estiveram, o que comeram... e por aí vai. Entretanto, agora, sei que preciso estar presente nestas mídias com uma constância, que considero inquietante, mas este é um dos caminhos para vender o meu livro. Não sou uma Cecília Meireles! Devo confessar que ainda não me sinto à vontade. Qual a relação disso com o fato da minha "comunicação direta" com a colega? Tenham paciência, vamos chegar lá...
Há cerca de uns dois anos, li o livro Comunicação Não Violenta de Mashal B. Rosenberg. Achei-o interessante e fiz anotações sobre ele. Comentei com amigos próximos e pronto. Normalmente é isto que fazemos: lemos, comentamos e jogamos na gaveta do esquecimento. Ontem, sentada no jardim, depois de ler um livro de uma amiga, zapeando pelo YouTube, agora com mais frequência na mídia, descobri uma playlist sobre a comunicação não violenta. Bebericando a cerveja e deleitando-me com a paisagem, fui ouvindo a palestra da psicóloga Svitlana Samoylenko, que , segundo ela, aplica a andragogia nos seus cursos e atendimentos.
Aquilo que há muito me incomodava, porque depois do ocorrido ficou sim o incomodo, apesar da justificativa; algo descortinou-se e percebi duas coisas importantes: Primeiro, a minha comunicação não foi direta, foi tóxica. Veio precedida de julgamentos e não de fatos. Projetei na colega, a minha aversão pelas presenças constantes na mídia. Não compreendi, que ela o faz, para dar prosseguimento aos seus projetos de acessibilidade. O seu fazer é dela! Descobri, que antes de conhecê-la, já havia feito meu julgamento negativo. Na minha humanidade imperfeita, não perdi a oportunidade de criticá-la. Que comportamento mesquinho! Reconheço e não me orgulho dele. Ainda bem que tenho o respaldo do Marlon Reikdal para continuar este meu "Vai para Dentro".
Como disse anteriormente, percebi duas coisas: Segundo, li o livro Comunicação Não Violenta, mas minhas reflexões sobre o assunto foram superficiais, não tiveram o propósito de um aprendizado. Como acredito não haver os acasos, o fato de ter me deparado com a playlist citada, é um convite para rever minha maneira de me comunicar. Os quatro pilares da comunicação não violenta _ observar, sentir, precisar e pedir_ merecem ser destrinchados, examinados, exercitados e aprendidos. Treinando o que ouvi, quero retificar a minha comunicação tóxica dirigida à colega e, acima de tudo, pedir-lhe desculpas publicamente. Se pudesse voltar no tempo corrigiria e falaria desta forma:
__Observo que todas têm o desejo de falar sobre as suas entidades e sinto o quanto isto é importante; contudo, devido ao tempo, teremos que ser breves nas nossas apresentações. Gostaria, que hoje, você observasse isso. Você pode ser mais concisa? (Você foi capaz de identificar os 4 pilares da comunicação não violenta?)
Neste processo de autoconhecimento, continuo mergulhando nas observções dos meus sentimentos, pensamentos e comportamentos e, a cada ferramenta, ou acontecimento, que me chega, agradeço. Convido vocês a fazerem esta caminhada, nem sempre bonita; como vocês perceberam. Pelo contrário, descobrir quem realmente somos, pode nos trazer muitos constrangimentos. Embora, só o reconhecimento de quem somos aliado à vontade é que nos permite a mudança.
Reitero minhas desculpas à colega!
Para mim este texto foi um puxão de orelha, pois me trouxe vários pontos de reflexão. Abraços Cris
ResponderExcluirÉ sempre interessante saber sobre o olhar do leitor. agradeço a sua presença no blog. Um abraço!
ExcluirExcelente texto. Parabéns! Também repensarei meus pré julgamentos antes de abrir a boca.
ResponderExcluirQue bom que você apreciou o texto. Estamos sempre aprendendo e este é o segredo do bem viver. Um abraço!
ExcluirÀs vezes, usamos as velhas expressões "esse é o meu temperamento; desculpe-me" para justificarmos o nosso orgulho, normalmente, mascarado. Sua crônica é precisosa. Aprendi muito com ela.
ResponderExcluirO nosso temperamento não nos dá o direito de semos indelicados com os outros, não é mesmo, Valéria? Nesses casos, como você mesma afirmou, estamos mascarando o ego exacerbado. Mas vamos seguindo nessa jornada de aprendizado. Um abraço!
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