quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Árvores e Primas

Ao contrário do grande José Saramago, sempre tive aquela curiosidade, não mórbida, mas vívida, pelos ramos e galhos da chamada árvore genealógica. Ela valida a história da nossa existência. E somos assim, estamos sempre a procura de sermos validados.
As árvores, da botânica, sempre me chamaram à  atenção. Tenho ainda a intenção de fazer uma exposição de fotos de árvores, mas isto não vem ao caso, no momento. Elas, as árvores,  sempre me transmitem segurança. Quer pelas sua raízes, pelos seus troncos ou, talvez, pela capacidade, de muitas delas, espalharem seus galhos.
Sem explicação! Apenas o sentimento...
Gosto de árvores!
Daí por que não gostar da árvore genealógica?!
Mesmo não fazendo parte da Botânica,  a inspiração que ela me proporciona é a mesma: segurança! Está relacionada com origem, família, raízes... E como você espalha seus galhos...
Quando olhava meu avô paterno me perguntava de onde vinha aqueles olhos castanhos tão claros. Os cabelos quase loiros completavam a perfeição do rosto tranquilo. De hábitos muito simples e sorriso discreto, poderia ele ter sua origem em uma família espanhola ou portuguesa. Mas ele partiu sem que eu pudesse esmiuçar seus segredos de origem... Perdi a oportunidade de colher as pérolas das suas histórias, dos seus causos, das suas lembranças...
Ao contrário do meu avô materno, que era, sem dúvida alguma, descendente de um cafuzo. Contava ele, que o meu tataravô negro, havia capturado uma índia e tomado- a como sua companheira. Fincados em um sítio, nas bandas do Triângulo Mineiro,  criaram seus filhos e viram crescer seus descendentes. Em contrapartida, meu avô casou-se, com certeza, com uma moça de linhagem européia. Ela não era loira, mas tinha cabelos, olhos e tez tão claros que seu nome era Ana Clara.
Com esta miscigenação tão evidente, sempre foi intrigante observar as diferentes fisionomias dos meus tios e tias. Parte deles, com traços explicitamente  europeus ou indígenas; enquanto outros não negavam a descendência negra; quer pela cor da pele ou pelos cabelos quase pixains... Alguns de estatura baixa, outros medianos e  havia aqueles bastante altos. E cá estou eu, fruto de toda esta mistura!
Saramago em sua crônica Retratos de Antepassados, afirmava não dar importância a genealogia , defendia que "...cada um de nós é, acima de tudo, filho das suas obras, daquilo que vai fazendo durante o tempo que cá anda."
É uma grande verdade! Por sinal, uma grande responsabilidade. Mas, devo admitir, que mesmo assim, acredito ainda na tal da árvore. Se ela não me dá traços de caráter dos antepassados, sei que me presenteia com os traços físicos que carrego comigo. E isto me fascina!
Pensar que estes dedos, que dedilham o teclado, poderiam ser confundidos com os de uma avó distante,   que ensaiou escrever poemas com uma caneta de pena... Meus cabelos rebeldes e ondulados são frutos de um casamento  que aconteceu há dois séculos atrás...
Curiosos galhos... Fascinantes ramos...
E foi na tentativa de preservar e aproximar estes ramos que promovi um "picnic" com primas paternas. 
E foi gratificante! Descobri que não somos mais ramos. Nos fortalecemos. Fomos galhos... mas o tempo e as experiências vividas fizeram de nós, em sua grande maioria, troncos...
Estamos espalhando nossos pequenos galhos...
Temos amparando muitos em nossas sombras e nossos frutos têm alimentado tantos outros. Ou bem ou mal, estamos tentando cumprir nossa missão. Procurando acertar nas nossas responsabilidades, mas sem perder o prazer de dançar ao sabor dos ventos que sopram em nossas vidas.
Neste encontro, compartilhamos sabores doces, amargos, salgados e, alguns, até azedos... Trocamos confidências, dúvidas e certezas, mas principalmente, trocamos energia! 
Ficou a certeza da alegria do encontro e a esperança de um novo, com cestas e toalhas xadrezes!
Como o ano está findando, por pura imaginação dos homens, desejo a todas as árvores, galhos e ramos muita saúde, com fertilizantes de amor sincero, de respeito, de carinho e perdão. E lembrem-se das palavras de Saramago:"...cada um de nós é, acima de tudo, filho das suas obras, daquilo que vai fazendo durante o tempo que cá anda."

Imagem: Google.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Outono lá...Pitangas aqui!


Sempre escrevi pelo prazer de fazê-lo.  Sou to tipo que gosta de expressar idéias, sentimentos, acontecimentos...  Necessidade de compartilhar... 
Criada, quase sempre sozinha, os livros e os cadernos sempre foram meus amigos. Escrevia como forma de dialogar comigo. E foi assim durante muitos anos. 
Demorei a mostrar meus rabiscos para os mais próximos. Gostaram ou fizeram que...
Depois veio a era digital... E aqui estou eu tentando aprender...
Espalhando meus rabiscos em um blog... Pessoas desconhecidas lêem meus textos e, alguns, me cobram assiduidade. 
Me veio a ansiedade de cumprir expectativas...
Você já experimentou escrever? Não estou mencionando escrever para alguém. Mas você já experimentou escrever para você, sobre você ou mesmo imaginar um certo você... 
Tenho certeza que alguns já fizeram isto há muito tempo, em um diário... Coisa do passado!...
Já há alguns dias, sento e tento escrever, mas não sou disciplinada o suficiente para isto... 
Vou lavar a louça ou simplesmente colher as pitangas vermelhinhas que teimam em cair do pé.
Queria que elas resistissem até o Natal, assim nem precisaria enfeitar nenhuma árvore para o Papai Noel.
Ela estava muito mais bonita! Agora não mais, colhi quase todas...
Se Drumond já afirmava que escrever é um ato triste e de luta, imagine para mim!
Quando não sinto aquela cócega cerebral, fico vasculhando pelas palavras e elas terminam me decepcionando... E novamente me vêem as palavras de Drumond:
"...O que você perde em viver, escrevinhando sobre a vida. 
Não apenas o sol, mas tudo que ele ilumina."
Por isto não me cobrem assiduidade.
Quero e gosto de escrever... Gosto das palavras, gosto de brincar com elas...
Elas são como folhas de plátano no outono.
Mudam de cor! São camaleoas!
Antes verde, depois vermelhas enferrujadas e em seguida amarelas...
E todas elas, misturadas, multicolores, vão desprendendo-se das árvores e sendo levadas pelo vento... Quando cansam de voar, pousam suavemente e carpetam o caminho até desintegrarem-se... 
Palavras que enfeitam e adubam idéias, pensamentos, até mesmo atitudes...
Sinto inveja daqueles que, disciplinadamente, sabem combiná-las criando verdadeiras tapeçarias literárias; alguns textos, parecem um pomar no paraíso, são saborosos...
Clarice Lispector disse uma vez que "Expressar-me por meio de palavras é um desafio. Mas não correspondo à altura do desafio. Saem pobres palavras."
Vou seguindo adiante, acreditando que  minhas pobres palavras, uma vez ou outra, quando elas invadem meus pensamentos e criam verdadeiros redemoinhos para saírem,  possam encontrar terra fecunda em alguns leitores.
Sem pretensões de mudanças, mas apenas de um desabrochar...
E, se você decidir experimentar este desafio, volte a escrever seu diário. 
Você verá que tem uma história e tanto para contar...


Foto: Lúcia Boonstra