quarta-feira, 9 de julho de 2014

Momentos e Reflexões


Depois de receber queridas visitas, trocar carinhos com uma gripe, levar um tombo de bicicleta e ver nossa Seleção Canarinho ser humilhada, aqui estou novamente organizando idéias e brincando com as palavras...
Três diferentes situações, destes últimos dias,  martelaram minha cabeça.

Primeiro momento.
Sentada em uma grande mesa retangular, em uma fria cozinha conjugada com uma copa, estávamos atentos em  nossa última aula semestral. Cada qual mais compenetrado que outro, uma vez, que tínhamos uma árdua missão: falar sobre o nosso país ou cidade, para os colegas, mas em holandês!
Nos foi sugerido levar fotos. Sem fotos; como quase todos que aqui chegam, imprimi dois mapas do Brasil: um localizando-o na América Latina e outro com suas divisões regionais.
Meio claudicante com as frases, consegui repassar algumas informações e atiçar a curiosidade dos colegas. O colega seguinte, também nos trouxe um mapa.
Nascido no Leste Europeu, passou por várias situações de conflitos civis, onde seu país deixou de existir e outros surgiram. Nem depois disto os problemas terminaram. Estes, acabaram obrigando-o a abandonar suas raízes.
O outro mapa não mostrava história diferente...
E mais outro, que  foi apenas rabiscado ali, na hora, para  mostrar um pouco dos horrores da guerra, motivada pela ganancia e diferenças religiosas.
A próxima colega nada tinha, a não ser o alívio de ser uma sobrevivente de uma ditadura cruel e assassina, que afugenta sua gente para outras terras.
E mais uma, que mostrou uma linda foto de Buda e palácios...
Viera em busca de um amor, fugindo da miséria que assola sua terra ...
Estas estórias ficaram pululando em minha cabeça...
Eu era a única, naquela mesa, que podia escolher voltar e permanecer no meu país.
Um país com muitas mazelas, com certeza,  mas livre! E ainda com condições razoáveis de vida!
Posso escolher ficar ou voltar a qualquer hora ...
Descobri uma grande riqueza: o poder da escolha! E, de quebra, a valorizar mais o meu cantinho brasileiro...

Segundo momento.
Um post satirizando as pessoas que cometem faltas ao escrever em outras línguas me chamou a atenção. A crítica me afetou. Estou naquele período de aprendizagem em que você deseja se comunicar, mesmo sabendo que ainda comete erros grosseiros.... Mas o desejo da comunicação é maior... 
E, se temos ferramentas para nos ajudar, me refiro ao " Google Translator" ou qualquer outra,  por que não usá- las?
A piada ia além, criticando aqueles que não escrevem corretamente a própria língua; no caso, o Português!
Cagliari, que tem pós doutorado em Língüística pela Universidade de Oxford, no seu livro Alfabetização e Lingüística, 1999, faz a seguinte colocação (lembrando que estamos falando sobre Sociolingüística): Certo e errado são conceitos pouco honestos que a sociedade usa para marcar os indivíduos e classes sociais pelos modos de falar e para revelar em que consideração os tem... Essa atitude da sociedade revela seus preconceitos, pois marca as diferenças lingüísticas com marcas de prestígio ou estigma.
Marcos Bagno, doutor em Filologia, afirma que " Ninguém comete erros ao falar sua própria língua materna, assim como ninguém comete erros ao andar ou respirar."
Sendo assim, vamos encontrar pessoas que caminham e respiram como verdadeiros atletas, outros que o fazem com elegância e ainda, outros que caminham e respiram com certa dificuldade...
Podemos criticar as pernas ou os pulmões falhos?!
Eu tenho absoluta convicção que venho cometendo faltas com o nosso vernáculo.
Após a última mudança ortográfica, já não encontrava motivação para rever todas estas pequenas regras gramaticais. Me acomodei. Acho que, com a idade, minha respiração está um pouco mais lenta.... (Risos).
Fica, aqui, registrado a minha solidariedade aos que aos " trancos e barrancos", assim como eu, estão lutando para se comunicarem em outra língua. E vamos usar, sim, todas as ferramentas que possam nos alavancar nesta Torre de Babel.

Terceiro momento.
E de novo a bicicleta... Mas morando por aqui, não há como esquecê- las...
Não menos importante que aprender o holandês, venho treinando para " bicicletar" na minha bike de mocinha. Uma de segunda mão!
Lembro que cerca de uns seis anos atrás, quando ainda nem imaginava me fixar por estas bandas, externei meu desejo de, antes de morrer, aprender a pedalar. Sentada naquela mesa grande da cozinha da dona Negrinha, o senhor Lió, esposo desta, com aquele jeito mineiro de ser e com toda a calma, olhou para mim e disse: Pois, olha menina, é só querer e sair por aí treinando... Vai levar uns tombo, mas levanta e sobe de novo que logo, logo se aprende... Eu aprendi tava com sessenta ano, ô cê que é mais nova num vai aprendê?!...
O senhor Lió, hoje, com quase noventa anos, está mais do que nunca em meus pensamentos. Por muito tempo, ele pedalou pelas ruas de Santa Juliana e por estradas vizinhas...
A semana retrasada  levei meu primeiro tombo, nada sério, mas a cicatriz no joelho será a evidência de que não desisti. A minha recompensa foi, na semana seguinte, pedalar por mais de uma hora, sentindo a brisa fresca do verão holandês me envolver, me sentindo abraçada pela alegria deste momento.
Cair e levantar fazem parte das conquistas. Arranhões ou cicatrizes tornam-se troféus que eternizam estes momentos.Sendo assim, vou seguindo.

Agradeço o post da crítica, que me permitiu relembrar meus tempos de educadora, enquanto lia O Conceito de Erro em Sociolingüística de José Pereira da Silva, de onde copiei trechos, aqui usados.
Recomendo. Simples e fácil de ler. E, ainda, à família do Sr. Lió que, gentilmente, enviou e permitiu o uso da foto.










domingo, 1 de junho de 2014

O Estranho

Novamente deixei o tempo correr e não me sentei para escrever.
Viajar era mais urgente... Mais interessante!
E desta vez fui descobrir um pouco mais das nossas raízes quinhentistas.
Lá fui eu conferir, sem deixar Fernando Pessoa de lado, o "Ó mar salgado, quanto do teu sal / São lágrimas de Portugal..."
Deixei a casa para subir até o topo do Castelo de São Jorge e me deslumbrar com os casarios de  Lisboa. Fui a Cascais para petiscar uma deliciosa sardinha, na Brasileira tomei o mais puro dos cafés e conheci a deliciosa sopa de Alentejo... Me diverti na Praça do Comércio e no Museu da Cerveja, comi o melhor bolinho de bacalhau da minha vida!
E se você perguntar: " Valeu a pena? Tudo vale a pena / Se a alma não é pequena..." . Pessoa sabia do que falava... Portugal deixou saudades...
Em um post anterior (Ele, o ano, muda e você?), propus ler, escrever e viajar mais. Estou certa de estar buscando estes pequenos grandes prazeres. Portanto, antes de viajar, finalizei mais uma leitura: Mil Dias em Veneza, de Marlena de Blasi, jornalista e chef, que segue a linha de Comer, Rezar e Amar.
Uma leitura fácil e interessante com descrições de Veneza, sua gente e seus costumes e, ainda, a narrativa de como conheceu e transcorreu o seu romance com Fernando, o marido da autora.
Durante a leitura, encontrei vários pontos em comum com Marlena, em outros, nem tanto.
A estratégia que ela usa para fazer amizades, em um país desconhecido e sem conhecimento da língua, através da mesa farta que preparava para as pessoas, deixou-me com o desejo de fazer o mesmo e a frustração de não saber cozinhar tão bem...
Não se pode negar que uma mesa cheirosa, farta e saborosa, quando regada com uma boa bebida (de preferência vinho, para mim), não seja um prenúncio de boas amizades.
Pitoresca é a forma como, desde o início, a autora denomina Fernando: "o estranho"!
Há que se concordar, que quando você se casa com um homem, que conheceu há quatro meses, você está literalmente casando com um estranho... Este é o encanto da narrativa.
A autora não o descreve como o príncipe encantado, mas como um um homem comum, que anda pelo quarto com meias que cobrem as canelas finas. Que tem seus momentos explosivos e momentos de insegurança que beiram a infantilidade.
Mesmo assim é o "estranho" que ela ama! 
Acredito que todas nós, nos casamos com estranhos. É certo  que os confundimos com príncipes!
Mas necessitamos de uma certa convivência para irmos descobrindo as nuanças de cada um.
Imagine então, quando a língua, os costumes e os hábitos são mais outras das tantas barreiras neste caminho a percorrer para descortinar o outro.
Aí o "estranho" torna-se um verdadeiro alien... 
Assim, como Marlena, me casei com um estranho. Ou foi com um alien?!
Só agora,  estou convivendo com o meu " estranho alien"  no país dele.
Convivendo com a família dele...
Conhecendo o seu meio...  E tentando aprender a língua dele...
Depois de alguns anos, acreditando que já poderia chamá- lo pelo nome, me vem a surpresa de que, mais do que nunca,  tenho a certeza de ter ao meu lado um "estranho"!
É verdade, que este "estranho" já não me assusta, mas, ainda me surpreende! 
E, para espantar um pouco da solidão, comum a todos que vivem fora do seu país, estou também procurando oferecer a hospitalidade mineira, através da mesa. Resgatando raízes e procurando aprender os temperos e sabores...
Como nada é por acaso, ouço este rock, um tanto pauleira, para o meu gosto, mas que veio a calhar com o momento e com a pessoa ...
Que bicho estranho que é o homem / Passa a vida inteira sem saber quem ele é
Que bicho estranho que é o homem/ Passa a vida inteira sem saber o que ele quer...
Continuo desvendando habilidades, construindo frases e reconhecendo o meu " estranho"; que descobri, estranhei e, mais uma vez, estou desnudando.
Portanto, não tenham medo dos "estranhos"... Busquem o desejo de amá-los e, assim como Marlena e eu, com muita paciência e algumas renúncias é possível construir uma relação duradoura.
Afinal, seguindo com a letra da música, que se chama Bicho Estranho, de  Alexandre Vitali, "... nunca vi na natureza nada nascendo ou morrendo sem uma razão...".

Foto: Lúcia Boonstra.

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Bicicletando na Gramática Holandesa


Logo de manhã, deparei-me com este post na página do face:
"Se não gosta de onde está, mude. Afinal você não é  árvore."
Simples assim!? Não,  definitivamente, não é.
Há cerca dois anos e meio, estou vivendo uma ponte aérea dispendiosa e um tanto pitoresca. Estou aprendendo a viver o novo, dando adeus à rotina e ainda encarando pequenos desafios. É verdade que demoro a me situar por aqui depois de uma longa temporada no Brasil. Mas o mesmo acontece quando por lá, eu chego. São duas semanas ou mais, de completo estranhamento. Perco, até mesmo, peças de roupas. Procuro-as aqui, mas estão do outro lado do oceano...
Até mesmo as atividades físicas são diferenciadas. Gosto de praticar yoga ouvindo as instruções na minha própria língua; portanto é no Brasil que pratico minhas ásanas. Gosto de fazer caminhadas sentindo o vento frio no meu rosto. Por isto as faço aqui, na Holanda (Quase sempre está frio!). Para os outros, toda esta movimentação de um lado para o outro, parece ser bem colorida. Mas tenham a certeza de que há dias em que as cores se perdem no dia cinzento... Nas ruas, que no inverno, escurecem por volta das 15:30 h. Há outros em que a situação fica preta. Principalmente quando dá um branco e você esquece as poucas palavras que você aprendeu...
Daí a minha luta diária. O que me faz lembrar o poema, Lutador, do saudoso Drumond de Andrade, que dizia: Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá- las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento ...". 
No momento, identificação total!
Mas aqui e ali vou construindo minhas pontes para encontrar os caminhos para uma comunicação mais eficaz. Não posso reclamar.
Nos  meus tempos de CEUB, hoje UniCEUB, quando voltava sentada nas escadas do ônibus superlotado, lutando com a fome que comprimia o estômago, sonhávamos com uma língua mais fácil, sem tantas regras, com conjugações verbais mais simples... E, eu criava palavras como futebolar, bicicletar, docear... 
Acreditava estar sendo criativa... Que nada! Estas palavras já existiam por aqui... Voetballen, fietsen, snoepen...
São elas que brincam com as minhas sinapses, provocando verdadeiros curtos-circuitos. 
A conjugação dos verbos era um capítulo a parte. Quem se lembra de como era difícil decorar todas aquelas conjugações de preterito perfeito, preterito mais-que - perfeito, futuro do presente, futuro do preterito... Que dificuldade!
A conjugação, aqui, é mais simples, entretanto feita com verbos compostos.
A dificuldade é parar de raciocinar em Português?! Querer construir as zinen, frases, da mesma maneira?! Não funciona! 
Que tal esta frase? Hij gaat drie keer per week 5 kilometer in het park rennen. Isto é: Ele vai três vezes por semana 5 km naquele parque correr. Ou seja; primeiro fico sabendo quantas vezes, quanto e onde ele vai, para finalmente saber que ação ele vai praticar: correr... E eu fico, aqui, correndo atrás do prejuízo...
E novamente me vem os versos do Drummond : " Lutar com palavras parece sem fruto. Não tem carne e sangue... Entretanto, luto."
E nesta luta com as palavras vou escrevendo meu presente, esperando aprender milhares de palavras criativas e magnéticas. 
Que elas possam  estimular  meu futuro, iluminar  meu presente e quem sabe, permitir que eu entenda melhor minhas ações passadas; trazendo- me, assim, mais experiência para acertar mais o meu agora.
Tot ziens!

Foto:http://thedhosher.blogspot.nl/2013/04/bicicleta-e-livros-em-ilustracao.html

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Ruas por onde vagueio


Ontem atendi o convite do sol, que resolveu visitar- nos.
Seus raios aqueciam o ar frio que teimava em correr livremente.
Aos poucos, foram iluminando o dia nublado.
Com o coração um tanto pesado pelas incertezas de um recomeço _ Estou sempre recomeçando por aqui_ fui caminhando para onde meu nariz apontava.
Sempre é interessante vagar por aqui.
Para quem sempre viveu em pleno Planalto Central, onde o cerrado muda do verde para o marrom  e do marrom para o verde, sem grandes surpresas climáticas, as variações de cores, de temperatura e até de humor por aqui, são acontecimentos que merecem ser desfrutados.
Portanto me dou ao luxo de " de vez em sempre" vagabundear pela cidade.
Morando em um bairro simples, é comum ouvir diferentes sons ecoando aqui e acola.
São os diferentes falares que aqui residem .
E até mesmo a língua Neerlandesa soa ou muito carregada ou muito suave.
A variedade se estende às indumentárias coloridas.
Comum entre os holandeses, mais sisudas e conservadoras, quase sempre pretas, dos imigrantes marroquinos e outras mais clássicas e formais entre os grisalhos,  que são a maioria.
Assim vou conhecendo cores e combinações improváveis...
Como uma saia verde berrante usada com uma legging oncinha ou uma djallaba preta com  um  lenço de seda colorido.
Tudo é normal! Ninguém olha. A diversidade é tanta que nada mais é estranho...
Com esta primavera exuberante, é difícil ficar indiferente aos pequenos jardins coloridos.
Às vezes com frondosas pequenas árvores circundadas com jacintos azuis perfumados e alegres multicoloridas tulipas.
Aos poucos o recomeço vai ficando mais leve, o baú que carrego no peito transforma-se.
Sei que posso carregar esta mala de rodinhas.
Vou desfilando com ela pelas " straten"...
Ruas temperadas com nomes cheios de possibilidades...
Descubro que moro na Rua da Agrimonia  _ para minha surpresa, uma flor amarela, cor que muito aprecio_ vizinha da Rua Flor da Páscoa _ juro que existe! De um lilás maravilhoso!
Meu nariz vai apontando em direção a Rua Flor de Cisne _ de flor não tem nada!
São bolas verdes claras tão leves que flutuam na água, daí o nome.
Vejo que trago semelhanças com a  Flor de Cisne.
Ando flutuando por esta correnteza chamada Vida.
Sinto o cheiro de uma carne bem temperada, que deve estar sendo refogada neste momento.
O aroma nem de longe se parece com o nosso brasileiro, mas é tão sedutor quanto...
Vou em busca dele, afinal  sigo o meu nariz!
Vou entrando na Rua Flor Selvagem, ainda sem referência para mim.
Aqui, descubro várias antenas parabólicas voltadas na mesma direção.
Buscam o contato com a terra distante: Marrocos, Líbia, Tunísia, Síria...
Buscam não perder o vínculo com a cultura, com a pátria...
Cultivam a saudade em ondas magnéticas e telepáticas.
Varandas abarrotadas de roupas no varal, denunciam famílias numerosas.
Usam a varanda como um espaço de despejo...
Contrário dos nativos, que fazem das suas varandas uma extensão da casa.
Decorando-as com mini jardins suspensos.
Cadeiras confortáveis e almofadas floridas ficam viradas para o sol.
Chego a Rua Flor de Pêssego e sem ter nenhum para colher_ mesmo se tivesse não poderia fazê-lo, o respeito à propriedade é levado a sério, mesmo estando plantado em área pública_ decido não mais seguir meu nariz, mas sim o meu estômago, que clama por uma refeição quente.
Decidimos cortar caminho pela Rua Salsa de Vaca _ desconhecida para mim_ e irmos preparar uma boa pasta temperada com tomates secos e manjericão.
Caminho com uma certa pressa...
Percebi que havia esquecido em alguma destas " straten" a minha mala de rodinhas...
Deve ter sido por culpa da alegria que encontrei pelo caminho...
Ou será que ela transformou-se numa diminuta "necessaire"?!
Não importa! O estomago graceja e eu aperto o passo...

Foto: Lucia Boonstra

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Transparência



Sábado preguiçoso.
Olho pela imensa janela.
Ruas vazias. Silêncio.
O sol brilha lá fora.
Um convite à vida, mas minha inércia é maior...
Sei que o frio ainda permanece trespassando as ruas, canais e vielas...
E é dele que fujo.
Aquecida em meu refúgio,
vou deixando as horas passarem olhando através da janela...
Admirando os poucos ciclistas e corredores amadores que transitam espaçadamente.
Admito minha covardia!
Não participo da vida, sou expectadora...
Invejo a comédia, mas vivo dramatizando...
Admiro as pinturas. Não desenho e nem pinto. Escrevo?!
Sou menos da metade do que queria e do que desejei ser...
Sou a outra... Aquela que sonha viver!
Em um inexplicável ímpeto: troco de roupa e saio para correr.
Adeus!

Foto: Onofra Lúcia

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Retratos de uma família


Não sei se são as condições climáticas, o aconchego da língua e dos costumes ou, simplesmente, o doce prazer de me sentir em casa com os meus familiares,  que me fez abandonar-me  nesta preguiça morosa. Deixei de escrever...
Estava matando saudades de relações antigas, de carinhos represados, de conversas travadas...
Descobrindo sentimentos escritos e livros esquecidos...
Nas minhas buscas encontrei uma agenda de 2009 e antes de jogá- la fora decidi folhear...
Velhas anotações do dia a dia, telefones de pessoas que passaram por minha vida, compromissos cumpridos, outros adiados indefinidamente... Poemetos iniciados... O lote comprado em Anápolis, no valor de R$ xyz e mais outros tantos R$ xyz de despesas com aterramento, prestações da faculdade do filho e outras tantas miudezas gastas ... E, ainda, um desabafo, que inicia assim...

"Quero chorar as pitangas! Quero colo de pai, uma vez que mãe não tenho mais...
Mas de que adianta?! Ele jamais soube me confortar...
Tive sonhos de família. De família reunida...
De família que ri, chora, se conforta e se felicita juntos.
Não consegui construir esta família.
Fui incapaz de manter a união...
Primeiro o divórcio, depois, uma segunda união, que, na verdade, acabou por afastar meus filhos.
Não soube lidar com as necessidades deles e as minhas...
Com as inseguranças deles e as minhas...
Com as carências deles e as minhas...
E nesta difícil tarefa de buscar a minha felicidade e querer a deles, acabei atropelando-os.
Reclamam da minha insatisfação para com eles; na minha leitura, não é insatisfação.
É um desejo de que eles aproveitem melhor o potencial que eles têm.
Há mágoas das minhas alfinetadas, não as considero assim...
Mas alertas de que eles podem fazer mudanças para melhor...
Acredito nisto, porque sei da capacidade de cada um.
Pontos de vista diferentes...
Comunicação danificada...
Família separada...
Uma perda irreparável.
Uma vida vazia, inútil...
Sem construção positiva."

Hoje, vejo que o tempo é o grande remédio.
Estamos todos bem.
Vamos ainda ter algumas situações, talvez até difíceis, mas consegui vê- los adultos e amadurecidos...
Agora, com suas respectivas famílias, são eles que vão iniciar suas escolhas e buscas  em relação aos filhos. Cabe a eles escolherem as estradas que vão trilhar e quais os métodos usar...
Tomara, eu tenha, apesar de tudo, contribuído com coisas positivas, das quais eles possam se orgulhar.
Porque eu sempre tive muito orgulho de cada um deles.
Esperava, apenas, que eles encontrassem seus próprios caminhos...
O meu grande erro foi não saber que cada um tem o seu ritmo, o seu tempo, as suas escolhas...
O texto de Bruna Ferreira, Primavera,  externa de forma simples e muito bonita esta minha compreensão do momento:
Agora entendo melhor ao que Rilke se referia quando dizia "serenidade".
As tempestades passaram, como sempre têm passado desde que o mundo é mundo, e hoje veio o sol iluminar a beleza que só foi possível graças à chuva das semanas passadas."Aprendo isto diariamente, aprendo em meio as dores às quais sou grato:paciência é tudo!" 
Obrigada, meu Deus, pela minha família!
Um beijo no céu, mãe querida!

Foto: Lucia Boonstra

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

O Tédio das Notícias e o Pênis



À noite, depois dos afazeres domésticos, uma curta conversa com a amiga ao telefone, a corrida até o médico para exames  de rotina, posso finalmente relaxar a frente da tv e ler um pouco... Parece estranho para você?
Sempre cultivei este hábito. Gosto de ler, ouvindo o desfile das vozes na televisão. Quando algo me chama a atenção, paro e procuro sair das minhas aventuras livrescas e conectar-me com a realidade transmitida. 
E devo confessar que nem sempre isto é bom.
Meu marido, no escritório, munido com os fones de ouvido, faz o mesmo. Conecta-se com o jornal NOS, da Holanda.
Fecho o livro, A Pequena Ilha, de Andrea Levy, para assistir o noticiário...
Desfile de acidentes  nas estradas, com mortos e feridos provocados pela embriaguez, pela irresponsabilidade dos motoristas, mazelas e descaso dos governantes nos vários setores públicos, mais um escândalo de propina... 
Nada é diferente! Até mesmo os autores de alguns crimes e contravenções são os mesmos... 
Novidade mesmo são os "rolezinhos" que dividem opiniões de políticos e até mesmo as nossas, meros pacatos cidadãos. E, para completar, o nosso secretário adjunto de Segurança Pública nos reduz a "zés e marias". Sem direitos e sem maiúsculas...
Não nos damos a chance de nenhum questionamento ou discussão. Apenas aqui e ali, via facebook, exprimimos nossa indignação com o comportamento destes jovens "arruaceiros", que invadem um dos nossos poucos espaços que consideramos seguro;  os shopping centers!
Estou tão indignada como qualquer outro! 
Gosto também de perambular pelos shoppings nas segundas-feiras, quando tudo está com aquele ar moroso de ressaca de fim de semana. 
Mas, por outro lado, procuro refletir sobre as palavras de  Wagner Iglecias e Rafael Alcadipani, quando eles afirmam que essa garotada que hoje tenta frequentar os shoppings, " cresceram ouvindo dia e noite que política é coisa ruim e que o sucesso é conquista individual". 
Portanto, o que eles procuram é uma auto-afirmação através do  consumo e do uso de produtos de marcas que, atualmente, determinam o sucesso e o status na sociedade... 
E aí lembro das minhas netas que conhecem as marcas da moda... Lembro do bebê, que ainda de fraldas, no consultório médico brincava com seu tablet... Com certeza sou  de uma outra geração! 
Falham  as políticas públicas, que deixam nossas crianças e jovens ao Deus dará...
Com uma boa educação, talvez estes jovens concluiriam que, melhor seria, se tivessem acesso a teatros, cinemas, bibliotecas modernas, museus interativos, centros esportivos e de lazer ao invés destes ocos templos de consumo, ainda usando as palavras de Iglecias  e Alcadipani.
Meu marido vem até a sala. Enquanto estou ali, indignada e ensimesmada, ele está leve e sorrindo... Na NOS, o noticiário terminou.
Informaram sobre os comitês da União Européia, a insatisfação de alguns tantos pela admissão de outros países, um pequeno acidente envolvendo um carro e uma bicicleta e tantas outras notícias menores... Porém, a notícia culminante foi sobre uma altercação entre o presidente de uma associação de pescadores (esporte muito comum na Holanda) e a senhora, Nanka Van de Meer,  ambos residentes em Woudrichem.
O motivo do imbróglio é o estatuto que apresenta regras claras para quem pode pescar na cidade e nas suas adjacências:

  • Ter a permissão de pesca. A senhora Nanka possui.
  • Residir por no mínimo um ano na cidade de Woudrichem. A sra Nanka reside lá há exatamente um ano.
  • Possuir um pênis. A senhora Nanka nasceu desprovida deste apêndice!
A  referida senhora, de acordo com o prefeito, que apóia o presidente da associação, pela falta deste pequeno detalhe, fica impedida de pescar com o seu marido... Isto se o ministro não tivesse decidido a questão.
Nos Países Baixos , logo após a Segunda Guerra Mundial, observou-se que muitos jovens estavam agindo de forma violenta e vandalizando  os bens privados e públicos. Implantaram centros esportivos e de lazer, oferecendo varias modalidades esportivas e entretenimento direcionado; aliado a uma fiscalização, que previa a cobrança de multas aos pais dos infratores, que causassem danos ao patrimônio público ou privado.
Talvez, por isto os "rolezinhos" não chegaram por lá e, com a certeza de não ser apenas uma "maria" é que, a senhora Nanka deve estar neste momento pescando calmamente ao lado do companheiro...
Portanto prefiro o tédio das notícias de lá...

Foto: Página de Marcos Silvério http://ibopetvnews.blogspot.com.br/2010_05_01_archive.html

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Ele, o ano, muda e você?


Já estamos em um novo ano! Os fogos já se apagaram e a ressaca já foi curada... Hora de refazer planos ou simplesmente prosseguir os já iniciados, mas sem perder aquele gostinho de estar iniciando...
Quando eu ainda traçava metas, deixei claro que por algum tempo "deixei a vida me levar", fazia isto sempre depois dos três primeiros dias do ano. Era uma forma de elaborá-las com mais clareza; sem os atropelos e a euforia tão comuns  das festas de fim de ano.
Posso dizer que sempre funcionaram. Eram metas simples, como uma nova pintura na casa, a compra de um armário novo, uma mudança no estilo de trabalho, uma pequena viagem e assim por diante... Para não esquecê-las pregava-as na porta do guarda-roupa e quando realizava alguma delas, seguia o conselho das "psico auto ajuda"; me presenteava com um bom pedaço de torta ou comprava uma peça de roupa para mim. 
Lembro de quando instalaram meu primeiro guarda-roupa embutido; expressão caduca!... Uma parede inteira de portas. A última dava acesso ao meu banheiro privativo.
Sentei na cama e fiquei admirando aquelas portas amadeiradas, desenhadas com pequenos filetes... Tudo era espaçoso! As portas largas fechavam acomodando meus pertences e meus sonhos... Tão simples, mas tão prazeroso! Foi há muito tempo...
Fiquei mais exigente. E, com o tempo, fui deixando de apreciar estas e tantas outras pequenas grandes aquisições. Me perdi literalmente me "pré-ocupando" com aqueles ao meu redor... Me esqueci!
Mas a vida é feita de ciclos e portanto, é hora de dar adeus a este e recomeçar um outro... E neste iniciar quero, sem medo de cair na mesmice de tantos, agradecer... Mesmo sem metas estabelecidas tive muitos bons momentos... Pessoas que se despediram para sempre, mas pessoas que também chegaram... Tristezas que foram amenizadas com as alegrias intercaladas... Posso dizer que cresci um pouco mais... Vivi! 
E decidi voltar ao velho hábito...
Ainda é tempo de fazer planos e trabalhar para concretizá-los...
Teclado posicionado...
Escolhas e decisões. Quero estabelecer metas plausíveis... Podem ser pequenas, mas que sejam prazerosas e possíveis. Quero também cimentar algumas atividades iniciadas em 2013:
1- Pedalar mais.
2- Cantar mais.
3- Ler e escrever muito mais. 
4- Viajar mais, mesmo que seja para dentro de mim...
5- Exercitar a leveza no dia a dia, buscando aliar liberdade e interação do estar.

E acrescentar as novas...

6- Vender a nossa casa, abrindo espaço para escolher onde o futuro irá acontecer.
7- Iniciar um trabalho agradável, com a certeza de ser útil.
8- Estreitar laços de amor e harmonia com familiares e amigos.
9- Cuidar da minha fé cristã.
10- Cultivar alegrias e...
Deixar um espaço vazio, para dar chance ao inesperado, à novidade, ao presente que se instala sem ser convidado. Ah! Como ...



                               Eu quero tantas coisas...


                              São tão difíceis de enumerar
                              Mas com certeza, todas elas,
                              Nas minhas mãos hão de chegar!
                              E para elas alcançar,
                              Devo, com  cuidado, cada uma  analisar,
                              Trabalhando prazos e estratégias
                              Que realmente vão ajudar !



                              Querer é sonhar! Por isto, é importante:

                               Todos os dias, as metas visualizar!

                               Mas tenha a certeza 
                               De que  é preciso,
                               Com empenho trabalhar,
                               Para ver os seus sonhos
                               Assim se concretizar! 


A rima pode ser pobre, mas a mensagem é rica.

Feliz 2014 e, ainda é tempo de fazer ou refazer suas metas... Sucesso!