sexta-feira, 2 de maio de 2014

Bicicletando na Gramática Holandesa


Logo de manhã, deparei-me com este post na página do face:
"Se não gosta de onde está, mude. Afinal você não é  árvore."
Simples assim!? Não,  definitivamente, não é.
Há cerca dois anos e meio, estou vivendo uma ponte aérea dispendiosa e um tanto pitoresca. Estou aprendendo a viver o novo, dando adeus à rotina e ainda encarando pequenos desafios. É verdade que demoro a me situar por aqui depois de uma longa temporada no Brasil. Mas o mesmo acontece quando por lá, eu chego. São duas semanas ou mais, de completo estranhamento. Perco, até mesmo, peças de roupas. Procuro-as aqui, mas estão do outro lado do oceano...
Até mesmo as atividades físicas são diferenciadas. Gosto de praticar yoga ouvindo as instruções na minha própria língua; portanto é no Brasil que pratico minhas ásanas. Gosto de fazer caminhadas sentindo o vento frio no meu rosto. Por isto as faço aqui, na Holanda (Quase sempre está frio!). Para os outros, toda esta movimentação de um lado para o outro, parece ser bem colorida. Mas tenham a certeza de que há dias em que as cores se perdem no dia cinzento... Nas ruas, que no inverno, escurecem por volta das 15:30 h. Há outros em que a situação fica preta. Principalmente quando dá um branco e você esquece as poucas palavras que você aprendeu...
Daí a minha luta diária. O que me faz lembrar o poema, Lutador, do saudoso Drumond de Andrade, que dizia: Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá- las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento ...". 
No momento, identificação total!
Mas aqui e ali vou construindo minhas pontes para encontrar os caminhos para uma comunicação mais eficaz. Não posso reclamar.
Nos  meus tempos de CEUB, hoje UniCEUB, quando voltava sentada nas escadas do ônibus superlotado, lutando com a fome que comprimia o estômago, sonhávamos com uma língua mais fácil, sem tantas regras, com conjugações verbais mais simples... E, eu criava palavras como futebolar, bicicletar, docear... 
Acreditava estar sendo criativa... Que nada! Estas palavras já existiam por aqui... Voetballen, fietsen, snoepen...
São elas que brincam com as minhas sinapses, provocando verdadeiros curtos-circuitos. 
A conjugação dos verbos era um capítulo a parte. Quem se lembra de como era difícil decorar todas aquelas conjugações de preterito perfeito, preterito mais-que - perfeito, futuro do presente, futuro do preterito... Que dificuldade!
A conjugação, aqui, é mais simples, entretanto feita com verbos compostos.
A dificuldade é parar de raciocinar em Português?! Querer construir as zinen, frases, da mesma maneira?! Não funciona! 
Que tal esta frase? Hij gaat drie keer per week 5 kilometer in het park rennen. Isto é: Ele vai três vezes por semana 5 km naquele parque correr. Ou seja; primeiro fico sabendo quantas vezes, quanto e onde ele vai, para finalmente saber que ação ele vai praticar: correr... E eu fico, aqui, correndo atrás do prejuízo...
E novamente me vem os versos do Drummond : " Lutar com palavras parece sem fruto. Não tem carne e sangue... Entretanto, luto."
E nesta luta com as palavras vou escrevendo meu presente, esperando aprender milhares de palavras criativas e magnéticas. 
Que elas possam  estimular  meu futuro, iluminar  meu presente e quem sabe, permitir que eu entenda melhor minhas ações passadas; trazendo- me, assim, mais experiência para acertar mais o meu agora.
Tot ziens!

Foto:http://thedhosher.blogspot.nl/2013/04/bicicleta-e-livros-em-ilustracao.html