sexta-feira, 11 de novembro de 2011

O poder das palavras

                                       

É certo que a palavra tem poder. E uma boa palavra transforma, restaura, cria, assegura e consola. Quem de nós nunca foi socorrido pela palavra certa, no momento em que mais precisávamos dela? Ela surge do nada... De um amigo, de um livro, de um poema... O importante é que ela nos chega. Pode vir até mesmo de um anúncio ou até de uma conversa oriunda de outras pessoas. É preciso acreditar no poder das palavras. Só assim, prestaremos mais atenção no que ouvimos e teremos mais cuidado com o que pronunciamos. É importante cuidar das palavras, até mesmo, antes delas se tornarem um signo lingüístico, ou seja, cuidado com o pensamento!
   Para muitos povos, a palavra é de natureza divina, é uma revelação dos deuses criadores. E a natureza das palavras é definida pela dosagem dos elementos que a constituem: Água, terra, fogo e ar. Sendo assim, um excesso de fogo, produzirá palavras de raiva, enquanto um excesso de ar produzirá palavras vazias. Outros elementos, como o mel, o sal, a bile e outros, contribuem para enriquecê-la.  
   A nós interessa, neste momento, apenas, aquelas produzidas com a doçura do mel, fortalecidas pela energia da mãe Terra. As palavras que trazem boas sementes e proliferam, semeando idéias, aumentando a motivação, encorajando um viver mais flexível e criativo. Quero, então, convocá-los a  buscar, dentro de cada um de nós ou dentro cada um  dos amigos, o contador de histórias que existe e que  está morrendo. Agonizando em frente as milhares de TVs, computadores, tablets e tantas outras multimídias. Ninguém melhor do que o contador de histórias para saber o valor e a magia das palavras.
  Narrar histórias é ajudar a entender o mundo, além de nos dar um senso de pertinência e  de significado. Aristóteles acreditava que a literatura despertava emoções que produziam um efeito curativo. Na antiga biblioteca de Tebas há uma inscrição que corrobora a idéia do filósofo: “ O Lugar Para Curar a Alma”.
  E é acreditando nisto, que convido e reforço a idéia de que devemos contar mais histórias, mais causos, resgatar a oralidade na educação. É comum nas escolas se ensinar a ler e escrever, mas e o falar e o ouvir?!
    Nestes dias, convivendo mais de perto com o  meu pai, com menos tempo para a TV e o laptop, ouvi histórias da sua juventude, causos que lhe foram contados pelo pai, pela mãe, pelos tios. Quanta riqueza! As histórias traziam informações de um modo de viver, de pensar e agir. Verdadeiras aulas de Sociologia. E a graça ingênua dos causos, que na sua maioria trazem uma moral?
   Contar histórias (antigamente, se fazia distinção entre História e estória) é uma forma de estreitar laços através do entretenimento, é revelar concepções de mundo, crenças, valores e normas sociais de conduta, que esperamos dos membros da nossa sociedade.
   E para encerrar, lhes conto um dos causos do meu pai:
   Meu bisavô, fazendeiro garboso, que achava que tudo podia... Não contente por ter duas famílias; uma na cidade e outra na distante fazenda, ainda tinha olhos para a mulher da fazenda vizinha.
  Um dia, cavalgando pelas beiradas da fazenda viu a formosa vizinha embrenhar-se no mato, atrás de uma galinha. Do alto do seu cavalo, espantou-se ao perceber que um empregado se esgueirava mato adentro ao encalço da patroa. Como ele o reconhecia como rival,  não se fez de rogado, também esgueirou-se no mato.               Assim ia a mulher atrás da galinha, o empregado enamorado atrás da patroa e o vizinho enciumado atrás do empregado. Chegando em uma clareira, a galinha estaca. Pára a mulher. Chega o empregado. Aparece o vizinho... E todos cumprimentam o marido que  apeia do alazão... Ô situação!
   E aqui faço uso de uma anotação dos meus papeizinhos “ Sejam poetas, sejam contadores de histórias! Re- encantem as palavras para que elas possam, de novo, remover montanhas.”

Referências:
Caram, Cecília A. e Matos, Gislayne A. Contos e Metáforas em Terapia.
 Imagem capturada do blog http://relatividadedaspalavras.blogspot.nl/

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Rosário



“... olhar para dentro com a calma e a honestidade necessárias seria perigoso. Queremos garantia onde não há nenhuma, sem perceber que o imprevisível pode nos levar a um lugar mais interessante.” Eliane Brum

Mas é preciso ter coragem para dar o passo seguinte... Steve Jobs tinha esta coragem. E você?

                                       Rosário 
        
Rosto de lua cheia. Ficou assim depois dos dois filhos paridos. Parece que a barriga subiu para a cara. Cara de lua manchada de nuvens escuras. Não gostava de espelho, por isto nem se importou quando o maiorzinho quebrou o pequeno espelho da mesinha de quarto. Espelho pra quê? Era sempre a mesma coisa refletida... dava um desânimo danado desta vida... Cara que não mudava nem quando chovia nem quando fazia sol. Acho que era por isso que o João andava desacorçoado comigo. Quando conheci ele não era assim não... Ta certo que já era Rosário, mais a lida era pouca... As contas do terço não pesavam tanto...
Era só prosa. Olho no olho. Ai vieram as bulinação. O jeito foi mãe dá uma cama de casal pra nós. No início era bom. Ele ia trabalha e eu ficava em casa: cuidava dos meninos porque mãe ajudava pai lá na roça. De noite, quando todo mundo, cansado da lida e os meninos cansado das malinação  dormiam, nós fazíamos a festa. Às vezes, nas noites de lua cheia, naquele mormaço de brisa misturado, a gente brincava lá no quintal: ora na rede...ora no chão. Mais a chuva num vinha... a barriga começou a crescer e a fome a doer. As contas do Rosário começaram a crescer. Aí eu comecei a pensar: Meu nome é Rosário... Então comecei a rezar. Mas nem a reza trouxe a chuva ou fez a barriga murchar. O jeito foi pegar um caminhão, já fora da cidade, pro dono não vê, o motorista leva a gente pra capital. Lá diziam que não faltava serviço nem água.
Na madrugada, Rosário já rezava um terço. Afinal a fome era tanta que chega o menino repuxava as entranhas da barriga. João tinha só dez reais e este não podiam gastar. Na capital iam precisar. João tinha dó de Rosário e dava água para ela. Se continua assim, ela vai acabar rezando um Rosário inteiro antes do amanhecer. O motorista parava nos postos e lambuzava o bigode com pão e ovo. João e Rosário sentiam o cheiro e as entranhas ardendo. Bebiam mais água.
Ave, Maria! Cheia de Graça. Todo sofrimento tem um fim e o Rosário tinha acabado depois de três dias.  A cidade era grande demais, os carros zuniam perto da gente e o povo olhava de banda pra gente. Sabiam que a gente não pertencia àquele lugar. Mas bendito é o fruto do Vosso Ventre... Magra que era... A barriga começou a crescer mais ainda e os tios ricos da capital, davam comida a ela que não acabava mais. Há muito tinham vindo pra capital. Tinham casa com laje, camas com bonitas colchas e muita comida na mesa. Só o quintal que era pequeno. Tinha um muro tão  alto para separar as casas que ninguém falava com vizinho nenhum. Gente esquisita! Parece que tinham vergonha ou medo uns dos outros. E eles diziam: _ Come, Rosário, que é pro menino nasce forte! Primeiro começou uma lua crescente, que aos poucos foi crescendo.... crescendo... Mas não pensava nisso não. Enquanto João trabalhava na chácara, ela cuidava da casa, da roupa, da comida e da barriga crescente. Às vezes dava uma preguiça tão grande, que deitava ali, no chão mesmo, e dormia... Um dia quando acordou a barriga tinha minguado e nunca mais dormiu uma noite inteira. Era o choro da dor de barriga, da dor de ouvido, da dor de garganta, da diarréia, da fila do hospital, da cara feia do médico, da enfermeira enfezada, era a dor de vê gente morrendo na rua de baixo do carro de motorista bêbado, nos becos por causa de dinheiro pouco, no hospital tudo era sujo, tudo era dor... Não dormia mais porque tinha sarampo, catapora, bronquite, gripe, mamadeira, fralda, roupa pra lava, casa pra cuida e João... João ainda queria maliná!
Rosário sentiu que ia minguando por dentro e crescendo por fora. Estava pesada. Não falava, não gritava e nem chorava. Só inchava. Quando achou que ia explodir o outro menino apareceu. Foi aí que ela compreendeu que nunca mais ia livrar-se da cara de lua e nem do Rosário que acompanhava. Ave, Mulher! Cheia de Graça. Bendito é o fruto do Vosso Ventre – Rosário. Amém!... 

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Primavera aqui, outono lá .É tempo de reciclar!


"Um céu cinzento forma o pano de fundo para o tapete outonal de folhas vermelho-amareladas. As relvas
se afiguram frias e molhadas. o outono na Holanda já vai quase pela sua terceira semana e o verão já foi há muito esquecido." Frec Vloo.                                                                                                        

Enquanto isto, eu hiberno por aqui. Ou quem sabe devo me reciclar...

Um parágrafo, uma vida.

Era assim a sua vida; simples e rotineira. Todos os dias, exceto nos fins de semana – porque também era filha de Deus – ficava ali, naquela escola cheia de silêncios pesados e gritarias falantes de jovens que não a enxergavam. Abria o grande saco de lixo e recolhia os papéis picados. Picada também estava a sua vida. A mãe em Salvador, o pai, este nem sabia para onde fora há muitos anos atrás. As irmãs vivem em São Paulo e o irmão fora trancado num hospital de doidos. Abaixava e catava mais papéis; eram coloridos, brancos, pretos, macios, outros nem tanto, alguns lisos outros amassados... Era assim... Ás vezes   tinha momentos coloridos, como aquele em que o Francisco a beijou. Fazia tanto tempo! Mas o preto e amassado tomavam conta de tudo. Abria o saco novamente, tinha mais coisas para recolher: era o lixo, aquilo que ninguém mais queria usar... o resto de tudo. Será que era ela mesma o resto de tudo? (Lembrava de quando era mocinha, e a mulher do Dr. Gervásio chamou-a de lixo imundo...) Ou será que a vida havia lhe reservado somente os restos? Não valia a pena filosofar... Era melhor recolher o lixo... Percebeu quando a professora, uma moça bonita, que estava sempre alegre e sempre dizia bom dia - até para ela, aproximou-se e pediu-lhe os papéis.– iria usá-los nas aulas de artes. Papéis coloridos e picados iriam se transformar em material alternativo. Belos quadros de arte, aqueles amassados e escuros dariam o toque final nos trabalhos. O restante seria reciclado. Saiu com o saco vazio em busca de outros restos... Mas um estranho sentimento de felicidade inundou-a. Há sempre alguém com criatividade bastante para usar os pedaços, os restos jogados fora. Saiu dos corredores para o pátio e sentiu que o sol amarelava o dia. Uma criança passou chispando perto dela, a outra atrás gritou: “Desculpa, dona!”. Pegou a vassoura com mais firmeza, levantou a cabeça e seguiu conversando com aquela sua companheira fiel. O segredo era ser criativa e reciclar...

Foto: Lúcia Boonstra

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Carolina e a Marcha da Corrupção




Carolina
Nos seus olhos fundos
Guarda tanta dor
A dor de todo esse mundo
Eu já lhe expliquei que não vai dar
Seu pranto não vai nada mudar...
           Carolina,Chico B de Holanda, 1967. 
Sou da geração que admira e que ainda acha Chico Buarque um gato. É lógico que Sean Connery e Richard Gere são os campeões, mas o Chico tem lá o seu charme. Mas o assunto aqui não é o Chico. Embora atrasada, quero compartilhar a alegria de saber que os brasilienses, assim como outros brasileiros, estão “mostrando a sua cara”.  Mostrando a sua insatisfação diante dos mandos e desmandos destes políticos corruptos que ocupam o congresso, as câmaras legislativas, prefeituras e administrações deste nosso país. A Marcha contra a Corrupção não pode parar. Não podemos ser Carolina. Não podemos ficar olhando pela janela, guardando a nossa dor, e deixando-os tomar conta dos nossos espaços e privando-nos de direitos básicos. É hora de sair  às ruas para aproveitar, para dançar, para protestar como fizeram na Marcha. Sei que muitos preferiram o churrasco com amigos, desfrutar a piscina ou simplesmente ignorar a  Marcha. E são estes mesmos que muitas vezes abrem a boca nas filas para reclamar ou tecer comentários sobre esta situação vergonhosa da nossa política. Contando com esta inércia é que nossos políticos chegaram a este ponto. E, se não mudarmos, vamos continuar incentivando a corrupção. Depois só nos resta cantar:
Uma rosa morreu
Uma festa acabou
Nosso barco partiu
Eu bem que mostrei a ela
O tempo passou na janela
Só Carolina não viu...














Ps.:Como expliquei anteriormente em Índio quer Apito, a falta de uma política de apoio aos idosos e assistência aos familiares, que cuidam dos seus, tem me impedido de escrever e de fazer muitas outras coisas; sendo assim, peço desculpas aos amigos e àqueles que tem me dado o prazer de acompanhar este blog, mas a prioridade é o meu pai. Beijos e até quando der... 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Índio quer apito!




Meu pai caiu no banheiro. Ficou 16h tentando sair de lá  e não conseguia. Sua débil voz não foi capaz de se fazer ouvir nos vários pedidos de socorro. No chão frio e escorregadio, viu a tarde ir embora e a noite chegar. Com ela, a escuridão, a fome e a sede, as câimbras e a certeza de ter chegado ao fim...
Não percebeu quando deixou de ser ouvido. É verdade que na feira domingueira, era quase sempre esquecido pelo feirante, que movia-se de um lado para o outro atendendo as donas de casa. Achava que era cavalheirismo... Demorou a perceber que a voz não tinha mais a intensidade de antes, sendo ouvido apenas quando diminuía o tagarelar das freguesas. Clamou por socorro, por várias horas. A vizinha mais próxima, cerca de oito metros, não o ouviu. Os músculos que tantas vezes carregaram sacas de café, massa de barro... Agora, não conseguiam ajudá-lo a firmar-se para sair daquele minúsculo cômodo escuro e frio. É bem verdade, que a vizinha do outro lado da parede, ouviu a tosse intermitente. Imaginou uma gripe, não uma clausura úmida causada pelo acidente vespertino. Intimamente, ela admirava a desenvoltura que o vizinho boêmio apresentava. 83 anos! Até o início do ano ainda fazia apresentações de dança cigana. Morava sozinho por opção e porque não gostava de onde a filha morava. E, para ele, isto doía mais que a dor nas costas que agora sentia. A dor de saber que tinha que aceitar que havia perdido sua independência. Se estivesse na casa dela, estaria naquela cama, que não era a sua, mas era quente! Viu a claridade entrar pela janela estreita e mais uma vez, reuniu forças e pediu socorro... Foi encontrado às 8h da manhã! Depois de uma espera longa, nas intermináveis filas do hospital, ele foi atendido. 
Rita, 73 anos, também caiu ao levantar da cama para atender o telefone. Dez minutos depois, estavam, ao lado dela, sua vizinha, o serviço de saúde de atendimento de emergência e a polícia. Isto porque ela acionou o alarme que ela trazia consigo, um pingente em um colar. Rita adquiriu este sistema (alarmknop) por conta própria. Mas alguns conhecidos, sem condições, foram subsidiados pelo plano de saúde. Este alarme, a certeza do pronto atendimento e o serviço de atendimento domiciliar permitem a Rita, e a muitos outros idosos ou doentes, usufruirem de uma vida independente, confortável e segura em suas próprias casa.  
De acordo com pesquisas realizadas pelo SUS, Sistema Único de Saúde, um terço dos atendimentos de lesões traumáticas nos hospitais da rede vem de pacientes com idade superior a 65 anos. Destas lesões, 75% acontecem dentro de casa, principalmente no trajeto quarto-banheiro, durante a noite (46%), a partir de situações que poderiam ser evitadas. A queda é a sexta causa de óbitos em pacientes idosos, sendo o quadril e o punho as áreas mais comprometidas. 
Meu pai saiu sem nenhuma fratura, mas a lesão maior ficou na memória, ficou na certeza de que a descida da montanha estava  sendo íngreme. Com dores e escoriações pelo corpo, ele, agora, repousa na cama quente e confortável da casa do neto,  assistido por eles (neto e neta). Carinhosos e atentos, eles não desconfiam  o terror que o assombra, mesmo dormindo, quando lembra das horas de pânico pelas quais passou.
Ele não teve a sorte de nascer na Holanda como a Rita. Neste país aplica-se, na saúde, cerca de 12% do PIB, enquanto no Brasil é aplicado 8%. Poucos são os brasileiros que têm um plano de saúde, os preços são exorbitantes. E, mesmo quem os têm, não contam com um atendimento domiciliar. No máximo uma ambulância para transportá-los. 
Em tais circunstâncias, só resta avisar ao meu pai que, mesmo contra sua vontade, ele terá que mudar-se para minha casa e, quem sabe até, usar um apito no pescoço! Em país de índio... índio quer apito! Enquanto isto, nossos políticos...
 

Um especial e caloroso obrigada aos meus filhos e amigos que cuidaram e ainda cuidam do meu querido pai...

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

As raízes podem ser...


Entre um passeio e outro, esta semana li uma entrevista da Eliane Brum com a gaúcha Débora Noal, psicóloga, que faz parte da organização Médicos Sem Fronteiras. Conhecer pessoas como Débora, que neste momento, deve estar prestando atendimento em algum lugar perdido desta imensa civilização, nos dá uma alegria enorme, mas também, saber que ainda não alcançamos este desprendimento, esta coragem, esta leveza, nos deixam um tanto  constrangidos, um tanto dawn...
 Há muito, digo a mim mesma que vou fazer um trabalho voluntário, mas ano após ano,  sempre encontro uma outra coisa com que me ocupar. Aí aparece uma jovem como esta, e nos esfrega na cara o quanto estamos sendo omissos. Não que ela faça isto premeditadamente, é porque ela é o que é. Mas como ser humano, fraco que sou, encontro alento em um livro. Desses que você compra no aeroporto, no último minuto. Eu, por exemplo, escolhi pelo número de páginas -507 páginas. Duraria, pelo menos, uns três dias. Mas, voltando ao alento encontrado. Estas são as palavras da autora, Mônica de Castro, segundo ela psicografadas do espírito Leonel (Você o conhece? Nem eu!) : “...todos fazemos o que é certo na vida, embora o certo e o errado variem de acordo com a maturidade e o conhecimento de cada um. Quem aprende mais, sabe mais. Conseqüentemente, está em condições de tomar atitudes mais amadurecidas e equilibradas. Quem pouco ou nada aprendeu não pode ir além dos limites do que sabe.” Portanto, vou aceitando minhas limitações e fazendo o que posso, com a certeza de que ainda estou em evolução. Que estou certa.
Mas  a essência da Débora me capturou. A forma como ela define vida, família, trabalho, bens...  Entretanto, foi  o título, Minhas raízes são aéreas, é que não me saiu da cabeça. Raízes aéreas... Fiquei imaginando, que seriam raízes voltadas para o infinito, raízes soltas, livres, raízes que a nada se prendem... Apoderei-me da idéia.Também sou uma pessoa  com raízes aéreas... Uma mistura de céu/infinitude e ar/vento/liberdade.
 Pesquisei. Descobri, para minha decepção de sonhadora criativa, que raízes aéreas também matam. Dentro da Botânica, elas se subdividem em raízes: estranguladora, aderente, respiratória, suporte e sugadora...  Caí do cavalo. Sou raiz, mas não quero ser aérea. Sou subterrânea. Sou aquela que vai simplesmente ramificando-se durante a vida, e quem sabe levando um pouco de seiva por aí...  Então volta-me o pensamento: "...Quem aprende mais, sabe mais. Conseqüentemente, está em condições de tomar atitudes mais amadurecidas ...”
                                      
                                      O chá
                    O chá, servido na varanda,              
                        Tem perfume e sabor de flores...
                        O cachorro que ladra ao longe,
                        Os papagaios que voltam para os ninhos ao cair da tarde,
                        Os pingos de chuva,
                        Que teimam em cair no jardim de petúnias e amores perfeito...
                        No silêncio barulhento de tardes como esta,
                        É quase possível escutar os gorjeios
                        Dos miúdos filhotes no ninho...
                        Ninhos que teimam em equilibrarem-se
Nos leves galhos de boldo, romã
E, até mesmo, no de capim santo...
O chá, servido na varanda,
Tem sabor e perfume de flores...
Na pequena fumaça que da chícara se esvai...
As lembranças de velhos e queridos amores!...

  


Posted by Picasa

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Reencontro


Posted by PicasaEstou mais uma vez, nos Países Baixos. Desta vez para um reencontro com o meu companheiro de jornada. Assim como muitos casais, andávamos meio distraídos com   os afazeres do dia a dia, com os pequenos grandes problemas de todos e de ninguém tão importante ... Com isto, fomos nos distanciando e deixando de cultivar o nosso bem querer mais precioso: a nossa relação afetiva.
Com longas caminhadas, algumas paradinhas em cafés e pubs e uma infinita vontade de reconquista, descobrimo-nos mais uma vez. Decidimos validar nossa relação, confirmando-a como importante para cada um de nós. Kanitz, coloca que precisamos sempre ser validados pelos outros. É verdade.
 E aqui, compartilho com vocês uma dessas caminhadas, pelos jardins do Museu Castelo Sypesteyn. Um local cheio de história, localizado em Nieuw Loosdrecht. Com uma variedade de árvores, algumas raras, outras  nem tanto, labirintos e pequenos canais. Está ainda mais charmoso,  com a exposição de esculturas, do artista plástico russo, Alexander Taratynov. Suas esculturas apresentam um misto de monumentalismo autoritário com uma busca pelas possibilidades de expressão.
Emblemáticas são as esculturas do cavalo,” Campeão ”, e  o Beijo” de Gustav Klimt.
Outro achado interessante, são os dez portões que foram encontrados nas terras  do castelo,  restaurados e colocados nos jardins. Sypesteyn é um desses lugares que nos convida a soltar a imaginação... Não espere um grande castelo, ele é pequeno, é simples, é caseiro. Mas nós o validamos pelo que ele é... Um lugar que tem história!

                         Sabor de Frutas

      Pitangas maduras,
      Pêssegos macios,
      Jabuticabas que estalam,
      Sabores que espalham...

             Olhos azuis,

             Deus grego em forma de homem,
             Lábios de veludo,
             Que o meu corpo consome.
                                   24/03/99

domingo, 31 de julho de 2011

Nas asas do tempo



Com dores de mãe, deixo apenas o poema...

Na varanda,
    com minhas asas...
 
Flutuo em um oceano de asas:
Nas asas dos meus sonhos,
Alço vôos de grandeza;
Mas também bato as asas em fuga.
Fuga para lugares distantes...
Entretanto, é na asa,
Da minha xícara de chá,
Sentindo o calor envolver meus dedos,
Que deponho as asas da imaginação.

Pelas asas das narinas, surpreendo
O doce perfume da dama da noite,
Que parece perceber
as asas da bruxa noite, a invadir a lua clara,
Que teimava, há pouco, a  firmar.

Sinto um arrepio às minhas costas.
Antes que as asas do medo se fechem ao meu redor,
Lembro – me da voz doce da minha mãe:
“Que as asas do seu anjo da guarda espantem medos,
Tristezas e arrependimentos.
Que tragam saúde, amor e contentamento.”

Com o olhar perdido,
Descubro a coruja que insiste em abrir
E fechar suas asas chamuscadas,
Enquanto rotaciona a cabeça
Em vigilância constante.
Bebericando o chá, vejo que
Abri e fechei, infindáveis vezes,
As minhas débeis asas...

Houve vôos rasantes
E muitas derrapagens...
Mas quantas descobertas!!!


                              01/07/2007
Que a semana seja cheia de luz e até segunda...

domingo, 24 de julho de 2011

Sou avó sim, e daí?!

 

Alguém me disse que ando me lamentando no blog... Sinto que tenham percebido desta forma. Criei o blog para compartilhar situações do cotidiano e, sem grandes pretensões, apresentar meus rabiscos poéticos. E com este objetivo vou seguindo... 
   Ontem, meu neto completou seis anos, hoje, é a vez da neta celebrar seus oito anos. Venho tendo o privilégio de aqui e ali participar destes doces momentos de suas vidas. É interessante perceber como eles, que são três, são capazes de nos lembrar o quanto é divertido simplesmente viver. Eles nos trazem o prazer de exercer novamente aquela maternidade de primavera. Embora de maneira mais suave, mais leve, menos responsável. Afinal, estamos com mais experiência, com mais tempo e com menos preocupações... Não há mais a obrigação do sucesso. Há um ritmo diferente, que nos permite uma troca de experiência, na qual me sinto renovada e com  a certeza de estar contribuindo para o amadurecimento de cada um deles.
   Nestas férias, folheamos velhos álbuns e eles foram descobrindo uma avó mais jovem, um avô mais esguio, lugares diferentes em que vivemos, pais que também foram crianças como eles são agora e tantas outras "novidades" do passado. São momentos em que me sinto historiadora da família. Transportando-os no tempo, revivo minha história. E quando vejo seus olhinhos atentos, seus sorrisos se abrirem diante das traquinagens realizadas pelos pais, percebo minha grande realização de vida: Construí uma família!
   Muitos pais temem tornarem-se avós. Afinal, na visão de muitos, ser avó ou avô é sinal de velhice. Também passei por isto. Hoje sei que ser avó foi apenas uma transição. Uma transição para melhor. Nas palavras de Kanitz  Você estará é passando para um estágio superior, você estará transcendendo. Passará a ser uma avó, cujo surgimento foi um dos eventos mais importantes que a espécie humana produziu, e uma das razões de nosso sucesso como espécie.
   Não sei se somos tão importantes assim, mas sei a importância que meus avós tiveram em minha vida. E desejo deixar este legado aos meus netos. Um legado de amor e respeito pela família; independente da forma que  ela é ou está construída. Desejo que eles sintam-se orgulhosos do seu passado e que sintam-se prontos para o futuro.
   Sinto pelas crianças e pelos avós, que de alguma forma, estejam impedidos desta convivência tão necessária e tão salutar. De acordo com relatório da Grandparents Plus, cerca de um milhão de crianças são incapazes de ver seus avós por causa da separação da família. Além disso, eles relatam que quatro em cada cinco adolescentes dizem que um avô é a pessoa mais importante fora da família imediata.
    Sendo assim, encerro com algumas dicas, para os avós, da psicóloga e terapeuta familiar Lidia Aratangy:  

1. Dê o exemplo
2. Ajude nos estudos
3. Participe da vida escolar
4. Vá a reuniões de pais quando necessário
5. Leve a eventos culturais
6. Ensine algo que domine
7. Leia para seus netos
8. Proponha jogos educativos
9. Seja presente
10. Passe sua experiência de vida
Poeminha sem graça...

Chuva?
É pingo d'água que cai da nuvem...
Jardim?
É flor colorindo os olhos, com sabor de hortelã.
Colhemos as flores nas orvalhadas manhãs...
Enquanto o sol espanta a chuva,
Para dentro dos corações solitários...

                    Boa semana e até a próxima segunda...






segunda-feira, 18 de julho de 2011

E quem cuida de mim?!



Deixei de ver meus filmes da madrugada. Tomo café da manhã com meu pai. Mas ele não tem um horário preciso para levantar... Perdeu a noção do tempo. Dei-lhe uma tarefa diária: Molhar as plantas. Acordo com o barulhinho da água. E aí ele toma a primeira das várias pílulas do dia.  Enquanto ele, em uma cadeira, toma sol e sonha com o passado, eu limpo o jardim.Tenho que ser criativa no preparo das refeições,  seu apetite precisa ser estimulado. Assim como sua mente e seu corpo já cansado e encarquilhado.
 Tomei um susto quando me passaram a lista de cuidados e atividades para serem realizadas. Me lembrei de quando tive o meu primeiro filho, com a diferença de que naquela época eu era cheia de energia e vitalidade. Não sentia que o tempo escorria de forma tão rápida. Vendo o meu pai, é como se tivessem colocado um espelho em minha frente... E agora  que pensava, depois de cumpridas minhas obrigações como mãe e profissional, poderia usufruir da aclamada aposentadoria, reinicio uma nova temporada de mãe. Sinto a ausência do poder público. Não tenho a quem pedir socorro... Os filhos estão correndo atrás de suas estabilidades, sonhos, família.  Os tios e tias estão passando pela mesma situação. Sou filha única. O Brasil não tem uma rede de apoio aos cuidadores, não há serviços ou entidades que possam auxiliar-nos neste momento; salvo quando você dispõe de uma situação financeira privilegiada. Países como Holanda ,Alemanha, Canadá e Inglaterra dispõe de uma assistência exemplar. Meu sogro, holandês, faleceu com 93 anos. Morava sozinho. Todas as manhãs, recebia uma visita apenas para confirmar que estava bem. Uma aplicava a medicação, a outra auxiliava na higiene , além de uma outra, responsável pela limpeza pessoal e, ainda,  recebia a alimentação necessária nos horários prescritos. Sem nenhum custo. Toda esta rede, está a disposição do cidadão que contribuiu para o enriquecimento do seu país. Outras benesses também estão incluídas, mas se for comentá-las... 
Cuidar do meu pai não é uma opção, mas tornou-se  uma obrigação devido as circunstâncias, assim como tantos outros cuidadores de idosos. Onde as filhas e esposas, com idades entre 50 e 60, assumem esta responsabilidade, levando-nos a uma rotina cansativa e estressante; podendo causar a "caregiver stress".
Estou aprendendo, revendo meu passado e caminhando no compasso dele... Carinhosamente vou acompanhando-o nesta estrada que está findando. 
Sem poemas desta vez, e eis a razão da pausa da semana passada.


                                      Um beijo especial, a minha filha, que cuida de mim...