"Um céu cinzento forma o pano de fundo para o tapete outonal de folhas vermelho-amareladas. As relvas
se afiguram frias e molhadas. o outono na Holanda já vai quase pela sua terceira semana e o verão já foi há muito esquecido." Frec Vloo.
Enquanto isto, eu hiberno por aqui. Ou quem sabe devo me reciclar...
se afiguram frias e molhadas. o outono na Holanda já vai quase pela sua terceira semana e o verão já foi há muito esquecido." Frec Vloo.
Enquanto isto, eu hiberno por aqui. Ou quem sabe devo me reciclar...
Um parágrafo, uma vida.
Era assim a sua vida; simples e rotineira. Todos os dias, exceto nos fins de semana – porque também era filha de Deus – ficava ali, naquela escola cheia de silêncios pesados e gritarias falantes de jovens que não a enxergavam. Abria o grande saco de lixo e recolhia os papéis picados. Picada também estava a sua vida. A mãe em Salvador, o pai, este nem sabia para onde fora há muitos anos atrás. As irmãs vivem em São Paulo e o irmão fora trancado num hospital de doidos. Abaixava e catava mais papéis; eram coloridos, brancos, pretos, macios, outros nem tanto, alguns lisos outros amassados... Era assim... Ás vezes tinha momentos coloridos, como aquele em que o Francisco a beijou. Fazia tanto tempo! Mas o preto e amassado tomavam conta de tudo. Abria o saco novamente, tinha mais coisas para recolher: era o lixo, aquilo que ninguém mais queria usar... o resto de tudo. Será que era ela mesma o resto de tudo? (Lembrava de quando era mocinha, e a mulher do Dr. Gervásio chamou-a de lixo imundo...) Ou será que a vida havia lhe reservado somente os restos? Não valia a pena filosofar... Era melhor recolher o lixo... Percebeu quando a professora, uma moça bonita, que estava sempre alegre e sempre dizia bom dia - até para ela, aproximou-se e pediu-lhe os papéis.– iria usá-los nas aulas de artes. Papéis coloridos e picados iriam se transformar em material alternativo. Belos quadros de arte, aqueles amassados e escuros dariam o toque final nos trabalhos. O restante seria reciclado. Saiu com o saco vazio em busca de outros restos... Mas um estranho sentimento de felicidade inundou-a. Há sempre alguém com criatividade bastante para usar os pedaços, os restos jogados fora. Saiu dos corredores para o pátio e sentiu que o sol amarelava o dia. Uma criança passou chispando perto dela, a outra atrás gritou: “Desculpa, dona!”. Pegou a vassoura com mais firmeza, levantou a cabeça e seguiu conversando com aquela sua companheira fiel. O segredo era ser criativa e reciclar...
Foto: Lúcia Boonstra
Foto: Lúcia Boonstra
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