sexta-feira, 23 de junho de 2023

Pedido Público de Desculpas

                                                                       Foto cedida por Dinorah Couto Cançado

Ela se faz presente por onde passa. Sua voz rápida, mostra uma urgência em ser ouvida e, se possível, atendida. Sua perseverança na luta para trazer à luz e, também, ampliar os direitos das pessoas cegas é inegável. Como ela mesma se intitula: Sou incansável! Já fundou uma biblioteca braille, uma academia para escritores inclusivos, é escritora e presença assídua em eventos literários ou políticos que possam agregar visibilidade à sua empreitada.

Encontrei-me com ela poucas vezes. Foram encontros fortuítos, mas antes disso, já a conhecia pelas redes sociais e ouvia sobre ela através de conhecidos.  A participação nos encontros literários nos fizeram esbarrar com uma maior frequência; até porque somos da mesma região. E foi num destes encontros, que eu esperava dar voz aos membros representantes das diversas entidades literárias, que eu disse a ela: _Cada um vai poder falar da sua entidade, mas cuidado, procure falar pouco. Você fala demais!_ Naturalmente houve um silêncio constrangedor.

Passado o evento, que afinal, não deu voz, como eu esperava, aos colegas, alguém comentou o episódio comigo. Eu reagi afirmando que, os anos de convivência com a cultura holandesa, me fizeram aprender uma comunicação e uma maneira de ser mais direta. Com certeza é uma verdade, mas tem mais caroço neste angú... Então vamos por parte.

Antes de publicar o meu livro, Soprados das Gavetas, aparecia de vez em quando nas redes sociais; confesso que tenho uma aversão àquelas pessoas que postam tudo que fazem: onde estiveram, com quem estiveram, o que comeram... e por aí vai. Entretanto, agora, sei que preciso estar presente nestas mídias com uma  constância, que considero inquietante, mas este é um dos caminhos  para vender o meu livro. Não sou uma Cecília Meireles! Devo confessar que ainda não me sinto à vontade. Qual a relação disso com o fato da minha "comunicação direta" com a colega? Tenham paciência, vamos chegar lá...

Há cerca de uns dois anos, li o livro Comunicação Não Violenta de Mashal B. Rosenberg. Achei-o interessante e fiz anotações sobre ele. Comentei com amigos próximos e pronto. Normalmente é isto que fazemos: lemos, comentamos e jogamos na gaveta do esquecimento. Ontem, sentada no jardim, depois de ler um livro de uma amiga, zapeando pelo YouTube, agora com mais frequência na mídia, descobri uma playlist sobre a comunicação não violenta. Bebericando a cerveja e deleitando-me com a paisagem, fui ouvindo a palestra da psicóloga Svitlana Samoylenko, que , segundo ela, aplica a andragogia nos seus cursos e atendimentos. 

Aquilo que há muito me incomodava, porque depois do ocorrido ficou sim o incomodo, apesar da justificativa; algo descortinou-se e percebi duas coisas importantes: Primeiro, a minha comunicação não foi direta, foi tóxica. Veio precedida de julgamentos e não de fatos. Projetei na colega, a minha aversão pelas presenças constantes na mídia. Não compreendi, que ela o faz, para dar prosseguimento aos seus projetos de acessibilidade. O seu fazer é dela! Descobri, que antes de conhecê-la, já havia feito meu julgamento negativo. Na minha humanidade imperfeita, não perdi a oportunidade de criticá-la. Que comportamento mesquinho! Reconheço e não me orgulho dele. Ainda bem que tenho o respaldo do Marlon Reikdal para continuar este meu "Vai para Dentro".

Como disse anteriormente, percebi duas coisas: Segundo, li o livro Comunicação Não Violenta, mas minhas reflexões sobre o assunto foram superficiais, não tiveram o propósito de um aprendizado. Como acredito não haver os acasos, o fato de ter me deparado com a playlist citada, é um convite  para rever minha maneira de me comunicar. Os quatro pilares da comunicação não violenta _ observar, sentir, precisar e pedir_ merecem ser destrinchados, examinados, exercitados e aprendidos. Treinando o que ouvi, quero retificar a minha comunicação tóxica dirigida à colega e, acima de tudo, pedir-lhe desculpas publicamente. Se pudesse voltar no tempo corrigiria e falaria desta forma:

__Observo que todas têm o desejo de  falar sobre as suas entidades e sinto o quanto isto é importante; contudo, devido ao tempo, teremos que ser breves nas nossas apresentações. Gostaria, que hoje, você observasse isso. Você pode ser mais concisa? (Você foi capaz de identificar os 4 pilares da comunicação não violenta?)

Neste processo de autoconhecimento, continuo mergulhando nas observções dos meus sentimentos, pensamentos e comportamentos e,  a cada ferramenta, ou acontecimento, que me chega, agradeço. Convido vocês a fazerem esta caminhada, nem sempre bonita; como vocês perceberam. Pelo contrário, descobrir quem realmente somos, pode nos trazer muitos constrangimentos. Embora, só o reconhecimento de quem somos aliado à vontade  é que nos permite a mudança. 

Reitero minhas desculpas à colega!