sábado, 13 de maio de 2023

Soprei e admito: Sou uma fingidora!

 



Finalmente os textos engavetados foram soprados ao vento. Dia 08 de março de 2022! A data em que, mais uma vez, senti o acolhimento da família e dos amigos. Foram ao lançamento do Soprados das Gavetas, não porque sou escritora renomada, mas porque a mãe, a avó, a sogra, a amiga, a colega os convidaram para fazer parte deste sonho: ser escritora!

Meu olhar romântico de mulher, não me desvia da realidade e, quando leio  Conceição Evaristo, Paulina Chiziane e tantas outras, me dou conta: meus poemas são crianças traquinas que necessitam desenvolver. Entretanto, com certa surpresa, descubro artigos que mencionam a poesia como ferramenta terapêutica e, aí sim, não sinto mais constrangimento por continuar escrevendo... Poesia, caminho para o autodescobrimento. Será?! 

Me lembro da querida professora Adélia afirmando que " o escritor é aquele ser visível, que ocupa um lugar na sociedade; o eu lírico é o Outro, é verdadeiro  dono do poema." Imediatamente me vem os versos de Fernando Pessoa, Autopsicografia. O poeta é um fingidor. Porém, não posso me esquecer de Mário de Sá Carneiro que dizia: Eu não sou eu nem sou o outro. Sou qualquer coisa de intermédio...

São infindáveis as digressões que emergem, mas voltemos ao assunto da poesia terapêutica. No blog https://www.boasaude.com.br/ há uma página com o título Hospitais Americanos utilizam a poesia como técnica terapêutica; eles afirmam   que os testes com o "novo tratamento" começaram  no Coler Goldwater Memorial Hospital, em 1984... os resultados positivos no emprego da técnica estão multiplicando o uso da poesia nos últimos dez anos em outros serviços de saúde. Informam, inclusive, que esta prática terapêutica já chegou ao Japão, Nova Zelândia. E, soube há pouco, em Portugal, também.

Unindo as pontas, chego a seguinte conclusão: Sou uma fingidora, acredito sim, na poesia como uma ferramenta terapêutica e como  um caminho para o autodescobrimento. Desconfio que os poetas sabem disto, principalmente os consagrados... Souberam usar a ferramenta! O Eu lírico não seria o Self se expressando? Eu não sou eu, nem sou o outro... mas não me atrevo a tão profunda análise... me permito divagar...

No meu ponto de vista, a escrita, principalmente a intuitiva e livre, deve ser lida com atenção; pode ser que ela  traga revelações íntimas  interessantes de serem conhecidas. Ao ler um poema e sentir-se tocado por ele ou por um dos seus versos, há que se perscrutar esta emoção despertada, questioná-la e observá-la com carinho. Podemos ser surpreendidos com as respostas conseguidas. Fernando Pessoa em um dos seus poesmas confessa: Não sei quantas almas tenho/ A cada momento mudei/ Continuamente me estranho; e termina de forma contundente: Nunca me vi nem me achei. Neste exercício de ler e de escrever poesias, é possível ir descobrindo estas almas que em nós habitam. O grande pulo do gato, é saber que não há um ponto de chegada; a mudança é constante. Durante o processo vamos brincando de escone-esconde. Aqui e ali, temos a sorte de bater o pique: Achei você! Em seguida recomeçamos... Se sou escritora não sei, mas estou na brincadeira, estou na caminhada, buscando me conhecer...

Portanto talvez, e só talvez, eu não alcanse o reconhecimento como uma notável escritora, mas neste momento, minha alma está entregue ao " estou escritora". Do dia 01 ao dia 04 de junho de 2023 com muito prazer, estarei no stand da Rede Sem Fronteiras, na Feira do Livro de Lisboa, onde farei o lançamento do Soprados das Gavetas. Convido vocês a lerem ou escreverem um poema por dia, como gotas medicinais. Poemas são homeopáticos extraídos da alma, é um tratamento completo e suave, que pode aliviar ou curar a doença sem agredir o organismo, sem causar efeitos colaterais. Comece pelos Soprados das Gavetas.