quinta-feira, 20 de julho de 2017

Sob os ares da Itália


   Viajar não é só  decidir o destino, comprar o ticket, agendar o hotel e arrumar as malas... Viajar é adquirir saberes é, principalmente, experimentar sabores... Saborear não só através do paladar, mas é expandir este saborear, aguçando os cinco sentidos.
  Com este propósito acomodei o necessário na pequena mala de mão e com o coração um tanto apertado segui em direção à região da Toscana. Devo confessar que o filme Sob o Céu da Toscana, foi a mola propulsara da escolha do lugar. Além das paisagens magníficas, havia uma certa similaridade de situação e de propósito entre mim e a personagem: Dor, redescobrir e recomeço.
  Minha primeira parada foi em Livorno, cidade do histórico porto dos idos século XVII e XVIII. Cidade pequena, com atrações interessantes, inclusive um belo calçadão à beira mar, mas eu devo dizer que minha impressão é de uma cidade mal aproveitada... Quem sabe voltando... Em seguida, de passagem à Pisa, segui para a região denominada Riviera Ligure. Ali, saborei a brisa salgada do mar, o fresco e adocicado aroma das várias figueiras, senti a ardência do sol na pele, a boca ser refrescada pelos sabores naturais de um delicioso "gelato"; ouvi o murmúrio das árvores nas subidas dos morros e, ainda vi o mar transparente verde-azulado lamber as encostas dos penhascos... Saborei cada minuto!
    Em seguida, explorei uma pequena, mas fascinante parte da Ligure. La Spezia e Porto Vernere. E, novamente o desejo de mais descobertas e o prazer de ser mais uma vez surpreendida me invadiu...
  Em  Florença, quando o sol adentrava em sua carruagem de fogo, para a longa viagem do anoitecer,  eu me sentava em um dos vários cafés espalhados pelas largas pequenas praças, degustava meu colorido e fresco Aperol Spritz e apreciava o tagarelar dos falares da terra que se mesclavam aos estrangeiros.
     Degustava cada segundo... Eram únicos!
 Durante as pausas de caminhada, geralmente no final das tardes, sentia que a languidês do tempo me devorava e eu transitava entre meu passado, meus feitos, meus desfeitos, minhas desistências, sonhos sonhado e momentos do agora; da realização, da reflexão, e dos questionamentos...
    Me surpreendi com quantas coisas havia já feito e, agora, o quanto o simples fato de viajar só, sem ter quem me esperava, havia me assustado. Me senti criança com medo do que estava por vir...
    É bem verdade quando Mia Couto diz que " o medo cria falsas identidades". Com este medo, que muitas vezes me assola, descubro identidades que não são minhas; ou que eu as desconheço...
   Mas aos poucos,  o medo foi cedendo lugar ao prazer da descoberta, ao prazer do experimentar e, então, me reafirmei. Subir e descer aqueles altos morros em Cinqüe Terre, decidir o rumo a tomar no próximo dia, adentrar pelas estreitas vielas, subir as imensas escadarias, tomar o trem na incerteza de estar no destino certo,  decidir ficar ou seguir , tudo no meu tempo, me fez acreditar de que preciso e posso fazer mais...
   É bem verdade que houve momentos de desejo de ter alguém, de compartilhar... Mas os meus livros e a minha vontade de descobrir a próxima esquina, a próxima escada a subir, o próximo monumento a conhecer, afastaram  rapidamente o sentimento de solidão.
   A Itália é linda... Histórica, acolhedora, com uma gastronomia deliciosa e paisagens de perder o fôlego. Porto Vernere, Lucca, La Spezia, Livorno... Cinqüe Terre, Florença?!
    Não há o que falar, há  que se visitar...
   Não comprei a minha Villa Bramasole, não encontrei nenhum Marcelo, não  conheci a cidade de Cortona e nem conheci o parceiro escritor,  mas posso afirmar que voltei me sentindo muito melhor...
    Portanto bela, Itália, me aguarde!
    Desejo que você "me roube do mundo, do tempo e da rotina"...( Mia Couto).



Foto: Lúcia Boonstra.