quarta-feira, 9 de abril de 2014

Retratos de uma família


Não sei se são as condições climáticas, o aconchego da língua e dos costumes ou, simplesmente, o doce prazer de me sentir em casa com os meus familiares,  que me fez abandonar-me  nesta preguiça morosa. Deixei de escrever...
Estava matando saudades de relações antigas, de carinhos represados, de conversas travadas...
Descobrindo sentimentos escritos e livros esquecidos...
Nas minhas buscas encontrei uma agenda de 2009 e antes de jogá- la fora decidi folhear...
Velhas anotações do dia a dia, telefones de pessoas que passaram por minha vida, compromissos cumpridos, outros adiados indefinidamente... Poemetos iniciados... O lote comprado em Anápolis, no valor de R$ xyz e mais outros tantos R$ xyz de despesas com aterramento, prestações da faculdade do filho e outras tantas miudezas gastas ... E, ainda, um desabafo, que inicia assim...

"Quero chorar as pitangas! Quero colo de pai, uma vez que mãe não tenho mais...
Mas de que adianta?! Ele jamais soube me confortar...
Tive sonhos de família. De família reunida...
De família que ri, chora, se conforta e se felicita juntos.
Não consegui construir esta família.
Fui incapaz de manter a união...
Primeiro o divórcio, depois, uma segunda união, que, na verdade, acabou por afastar meus filhos.
Não soube lidar com as necessidades deles e as minhas...
Com as inseguranças deles e as minhas...
Com as carências deles e as minhas...
E nesta difícil tarefa de buscar a minha felicidade e querer a deles, acabei atropelando-os.
Reclamam da minha insatisfação para com eles; na minha leitura, não é insatisfação.
É um desejo de que eles aproveitem melhor o potencial que eles têm.
Há mágoas das minhas alfinetadas, não as considero assim...
Mas alertas de que eles podem fazer mudanças para melhor...
Acredito nisto, porque sei da capacidade de cada um.
Pontos de vista diferentes...
Comunicação danificada...
Família separada...
Uma perda irreparável.
Uma vida vazia, inútil...
Sem construção positiva."

Hoje, vejo que o tempo é o grande remédio.
Estamos todos bem.
Vamos ainda ter algumas situações, talvez até difíceis, mas consegui vê- los adultos e amadurecidos...
Agora, com suas respectivas famílias, são eles que vão iniciar suas escolhas e buscas  em relação aos filhos. Cabe a eles escolherem as estradas que vão trilhar e quais os métodos usar...
Tomara, eu tenha, apesar de tudo, contribuído com coisas positivas, das quais eles possam se orgulhar.
Porque eu sempre tive muito orgulho de cada um deles.
Esperava, apenas, que eles encontrassem seus próprios caminhos...
O meu grande erro foi não saber que cada um tem o seu ritmo, o seu tempo, as suas escolhas...
O texto de Bruna Ferreira, Primavera,  externa de forma simples e muito bonita esta minha compreensão do momento:
Agora entendo melhor ao que Rilke se referia quando dizia "serenidade".
As tempestades passaram, como sempre têm passado desde que o mundo é mundo, e hoje veio o sol iluminar a beleza que só foi possível graças à chuva das semanas passadas."Aprendo isto diariamente, aprendo em meio as dores às quais sou grato:paciência é tudo!" 
Obrigada, meu Deus, pela minha família!
Um beijo no céu, mãe querida!

Foto: Lucia Boonstra

Um comentário:

  1. Como vc mesma falou nada melhor que o tempo... O bom de tudo isso e poder olhar para traz e ver que todo o esforço valeu a pena!!! E que hoje formamos uma linda, bela e unida família! Bjos e obrigada!

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