sábado, 26 de abril de 2025

Entre laranjas e palavras: Uma crônica sobre lealdade



Hoje, saí para celebrar. Por todos os lados, bandeirolas, balões, pessoas trajando roupas festivas, estranhas, adereços singulares, tudo laranja. Na Holanda, é o dia em que o país inteiro veste-se assim — a cor que simboliza não apenas a família real, mas também o orgulho e a alegria de um povo que sabe, como poucos, celebrar sua identidade: o Koningsdag, o Dia do Rei. Ruas repletas de música, mercados livres, rostos pintados e sorrisos largos compõem o cenário desta festa que, mais do que uma homenagem, é uma declaração pública de lealdade.

    Lealdade é um fio invisível que tece relações verdadeiras, seja entre súditos e soberano, seja entre sonhadores e sua missão. E é nesse espírito que encontramos a Rede Sem Fronteiras, uma entidade que, assim como os holandeses em sua festa, carrega uma devoção sincera — mas, no caso, à literatura, à cultura e à difusão da língua portuguesa mundo afora.

    Se o Koningsdag é uma celebração da união nacional em torno de uma história e de um símbolo, a Rede Sem Fronteiras é a celebração contínua da identidade cultural brasileira através de livros, eventos e projetos que ultrapassam mares e fronteiras físicas, chegando a 33 países. A lealdade aqui não é a um trono, mas a um propósito maior: o de manter viva a chama da literatura, do encontro de vozes e da construção de pontes entre culturas.

    Tal qual os holandeses que, no Koningsdag, orgulhosamente reafirmam sua conexão com a realeza, os membros da Rede reafirmam diariamente seu compromisso com a arte de contar histórias — histórias que unem, que emocionam, que transformam. A cada feira literária, a cada novo projeto, eles estendem a coroa simbólica da palavra a todos que acreditam que a cultura é, também ela, uma forma de realeza.

    Entre laranjas, livros e sonhos, o Koningsdag e a Rede Sem Fronteiras se encontram: ambos são celebrações daquilo que nos une — seja um país, seja uma língua, seja uma paixão que atravessa oceanos.

   Se o Koningsdag é o dia de vestir-se de laranja para saudar o rei, a Rede Sem Fronteiras veste-se todos os dias de esperança, de perseverança, de uma fidelidade sem fronteiras a um ideal que, como toda verdadeira monarquia de espírito, não impõe: inspirar.

   Neste ano, reafirmando seu compromisso com a difusão cultural, a Rede brilhou na Feira do Livro Infantil de Bolonha, uma das mais prestigiadas vitrines literárias do mundo, levando consigo a força da literatura lusófona e abrindo novas portas para autores brasileiros no cenário internacional. E a jornada continua: escritores, leitores e amantes da cultura são convidados a se juntar à Rede na próxima Feira do Livro de Lisboa, no Pavilhão H39, onde, mais uma vez, a língua portuguesa celebrará sua majestade e sua travessia sem fronteiras.                                  

quarta-feira, 16 de abril de 2025

As palavras e o coelho

   

    
 Sentada no café, apreciava o movimento da rua em frente. O capuccino feito com leite fresco, tinha sabor e cheiro de infância na fazenda. A espuma era saborosa. Levantei os olhos e reparei na cena: uma menina com orelhas de coelho corria atrás de uma mulher distraída, rindo como se o mundo não tivesse peso algum. Era impossível não sorrir. Algo naquela imagem parecia tirado de um livro, ou melhor, de um sonho.                                                                                                  Me lembrei de Alice no País das Maravilhas, quando ela persegue o Coelho Branco e mergulha em um universo onde o tempo, as regras e até as palavras ganham outros significados. Em um dos trechos, o Gato de Cheshire diz: “Palavras significam o que eu quero que elas signifiquem. Nem mais, nem menos.” Sempre achei essa fala provocadora. Palavras são pontes e labirintos ao mesmo tempo. Pensei na Páscoa que se aproxima. Para muitos, é tempo de ovos de chocolate, coelhos e reuniões em família. Para outros, é renovação, passagem, silêncio, ressurreição. O curioso é como cada palavra — “esperança”, “renascimento”, “fé” — tem um sabor diferente na boca de quem a pronuncia. E como as palavras, mesmo as pequenas, carregam mundos inteiros dentro delas. As palavras têm poder. Elas criam, confortam, transformam. Talvez esse seja o verdadeiro milagre da linguagem: nos dar caminhos quando tudo parece fechado.           Assim como Alice atravessou o espelho e encontrou um mundo onde tudo era possível, a Páscoa também nos convida a atravessar. A sair do automático, do cinza dos dias iguais, e redescobrir a beleza do simples: um café bem feito, uma risada de criança, uma história que nos fez pensar diferente.                                                           Entre um gole e outro, decidi escrever — para lembrar a mim mesma que às vezes, tudo o que a gente precisa é seguir o coelho, abraçar o mistério e acreditar que, mesmo em tempos difíceis, a esperança também tem orelhas longas e corre na nossa direção. No próximo domingo, celebramos a Páscoa.          
     Que tal aproveitar essa data para refletir sobre os significados que damos às palavras, às tradições, às pequenas coisas? Que cada um possa encontrar, à sua maneira, um sentido novo para o que já parecia conhecido. E quem sabe, descobrir que a travessia mais importante é a que fazemos por dentro.