Sentada no café, apreciava o movimento da rua em frente. O capuccino feito com leite fresco, tinha sabor e cheiro de infância na fazenda. A espuma era saborosa. Levantei os olhos e reparei na cena: uma menina com orelhas de coelho corria atrás de uma mulher distraída, rindo como se o mundo não tivesse peso algum. Era impossível não sorrir. Algo naquela imagem parecia tirado de um livro, ou melhor, de um sonho. Me lembrei de Alice no País das Maravilhas, quando ela persegue o Coelho Branco e mergulha em um universo onde o tempo, as regras e até as palavras ganham outros significados. Em um dos trechos, o Gato de Cheshire diz: “Palavras significam o que eu quero que elas signifiquem. Nem mais, nem menos.” Sempre achei essa fala provocadora. Palavras são pontes e labirintos ao mesmo tempo. Pensei na Páscoa que se aproxima. Para muitos, é tempo de ovos de chocolate, coelhos e reuniões em família. Para outros, é renovação, passagem, silêncio, ressurreição. O curioso é como cada palavra — “esperança”, “renascimento”, “fé” — tem um sabor diferente na boca de quem a pronuncia. E como as palavras, mesmo as pequenas, carregam mundos inteiros dentro delas. As palavras têm poder. Elas criam, confortam, transformam. Talvez esse seja o verdadeiro milagre da linguagem: nos dar caminhos quando tudo parece fechado. Assim como Alice atravessou o espelho e encontrou um mundo onde tudo era possível, a Páscoa também nos convida a atravessar. A sair do automático, do cinza dos dias iguais, e redescobrir a beleza do simples: um café bem feito, uma risada de criança, uma história que nos fez pensar diferente. Entre um gole e outro, decidi escrever — para lembrar a mim mesma que às vezes, tudo o que a gente precisa é seguir o coelho, abraçar o mistério e acreditar que, mesmo em tempos difíceis, a esperança também tem orelhas longas e corre na nossa direção. No próximo domingo, celebramos a Páscoa.
Que tal aproveitar essa data para refletir sobre os significados que damos às palavras, às tradições, às pequenas coisas? Que cada um possa encontrar, à sua maneira, um sentido novo para o que já parecia conhecido. E quem sabe, descobrir que a travessia mais importante é a que fazemos por dentro.
Texto inspirador
ResponderExcluirGratidão pelo feedback.
ExcluirSentimento especial oriundo da páscoa , no corpo de Cristo Jesus , gratidão Lúcia , abraços Cival Einstein
ExcluirUm prazer saber que você dedicou seu tempo para conhecer o blog. Gratidão!
ExcluirTexto liiindo, Lúcia!!! Também penso sempre no poder que têm as palavras. Mas, a despeito disso, como somos distraídos ao significado delas e às consequências - boas ou más - do que dizemos...
ResponderExcluirFazer essa reflexão e ligá-la à Páscoa foi um "gol de placa", uma maestria da escritora Lúcia Boonstra. Parabéns, amiga!
Gratidão, Sônia! Palavras tão carinhosas vindas de você soam como sinos de natal. Grata!
ExcluirNão assinei? Sou Sokia Bittencourt.
ResponderExcluirOps! SONIA.
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