Preparei tudo com zelo de quem acredita. Não num
milagre, mas no encontro.
Organizei um workshop com o coração exposto. O tema
era daqueles que não cabem em vitrines: a poesia como ferramenta de cura,
como espelho do autoconhecimento, como semente de transformação. Não vendia
fórmulas nem prometia salvação. Só oferecia o que sei fazer com inteireza —
palavras vivas, experiência real, escuta verdadeira.
A proposta havia sido bem recebida em outras terras
— Holanda, Portugal, Brasil. E aqui, mais uma vez, me disseram: “Que
maravilha! Eu vou! Vou chamar mais gente!”
Confiei. Como quem recebe um sim como abraço.
Mas no dia, chegaram apenas três netas — amorosas,
fiéis — e a namorada de uma delas. Só uma no horário. As outras, muitos minutos
depois, como quem ainda assim insiste na delicadeza. E o resto? O resto ficou
no mundo das promessas vazias.
Gente que disse vir. Gente que sorriu, acenou, se entusiasmou. Mas não veio.
Cada uma das ausências trouxe seu motivo: Aniversário do amigo, gripe que derrubou, consulta médica que não deu pra remarcar. Encontro inadiável.
Aceitei.
Sim, aceitei. Porque são justificativas plausíveis,
humanas. Aceitar não elimina o vazio. Não preenche o espaço das cadeiras vazias
nem o silêncio onde esperava vozes. Aceitar não é o mesmo que não sentir.
Onde foi que falhei? Essa
pergunta me atravessou.Teria sido ingenuidade minha confiar nas palavras? Faltou
divulgação mais agressiva? Um banner chamativo? Um sorteio? Ou — como me
disseram — foi o fato de ser gratuito?
Vivemos tempos estranhos. O que é oferecido sem
custo parece não ter valor. Gratuito, dizem, é sinônimo de descartável. Como se preço definisse
profundidade. Como se o afeto e o conhecimento precisassem de etiqueta com cifrão para
merecer respeito.
Há um abismo entre o gratuito e o sem valor. Oferecer
algo sem cobrar é, às vezes, um ato de generosidade, outras vezes, é
resistência. É acreditar que certas partilhas não se compram, se acolhem. É confiar
na reciprocidade do outro. E é aí que doeu mais: na confiança quebrada. Não
foram só cadeiras vazias. Foi o eco de tantas palavras que pareceram verdade e
se desmancharam no ar. A decepção não é pela ausência em si — ela também
ensina. É pela quebra de algo mais íntimo: a fé nas intenções alheias.
Não desisto. Porque ainda acredito. Quero acreditar
nas palavras, nas pessoas, nos encontros.
Este texto não é um desabafo. É um convite. A quem
lê, pergunto: Quantas vezes você acenou com um “vou” sem ter intenção de ir? Quantas vezes deixou de comparecer a algo gratuito porque “não custa nada
mesmo”? Quantas vezes esqueceu que, do outro lado, há alguém esperando — não só sua presença, mas sua escuta, seu compromisso, sua troca?
Quem sabe, da próxima vez, você honre esse convite. Sobretudo se for gratuito. Porque, às vezes, o que é oferecido de graça é o que tem mais valor: a presença, a palavra, o gesto.
A coragem de estar!
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